Animais fantásticos e onde habitam: serpentes de ilhas

Todo mês um post novo trazendo os melhores lugares para observar os animais fantásticos que habitam o Brasil e o mundo. Os escolhidos desse mês são as curiosas serpentes de ilhas. Faremos desse blog uma homenagem, afinal, em julho, especificamente 16/07, comemora-se o Dia Mundial das Serpentes. 

As serpentes que evoluíram em um ambiente diferente do continente possuem características e peculiaridades únicas que as distinguem das outras. Se você deseja saber mais sobre a biologia e ameaça de duas dessas espécies endêmicas de ilhas do Brasil, continue acompanhando por aqui.

Uma das serpentes mais perigosas do mundo: jararaca-ilhoa

Para começar, trouxemos um animal que talvez alguns de vocês já conheçam: a jararaca-ilhoa (Bothrops insularis). Ela é uma das espécies fantásticas que habita a segunda ilha com maior densidade populacional de serpentes do MUNDO, a Ilha da Queimada Grande (SP), ou ainda, “Ilha das Cobras”, situada a 35 km da costa brasileira. 

Essa espécie é endêmica de lá, o que quer dizer que só habita aquele local e mais nenhum outro lugar no planeta. Estudiosos estimam que essa ilha abriga entre 2 e 4 mil indivíduos desses répteis incríveis.

 

Foto: Rafael Benetti

Alimentação diferenciada!

As ilhas naturalmente possuem particularidades que as diferenciam do continente e isso, por sua vez, acaba influenciando diretamente na evolução das características dos animais que vivem por lá. No caso dessa jararaca, a mais marcante delas é provavelmente a sua alimentação. 

Quando você pensa nesses seres rastejantes, o que vem à cabeça quando o assunto é dieta? Apostamos que foram insetos, sapos e principalmente, pequenos mamíferos como os roedores e marsupiais. Acertamos? 

Mas o que você não contava, é que esses mamíferos de pequeno porte não habitam as terras da Ilha das Cobras, por isso, não fazem parte do cardápio dessa jararaca. Mas isso está longe de significar que não se alimentam com fartura! A verdade é que elas se adaptaram na caça de alimentos disponíveis no local e dessa forma, acabaram se tornando predadoras exímias de aves migratórias.

 

Astuta como uma serpente: aproveitando o banquete que caçou. Foto: Márcio Martins

É isso mesmo! Essas astutas serpentes aproveitam a chegada das aves migratórias na ilha para empanturrar-se. Alguns estudos vêm mostrando que esses eventos são suficientes para que elas fiquem satisfeitas e sobrevivam por cerca de 6 meses sem uma nova refeição.

 

Foto: Rafael Benetti

Para isso, essa espécie conta com uma série de modificações quando comparada às jararacas continentais, como por exemplo, uma cabeça maior e dentes mais curtos. E, claro, o aumento da potência de seu veneno, que chega a ser três vezes mais forte que o normal, matando uma ave em segundos, sem nenhum tempo para uma reação defensiva que pudesse lhe ferir..

Comportamento e Reprodução

Esses indivíduos, que podem chegar a 1 metro de comprimento, diferentemente da jararaca continental, são semi-arborícolas, diurnas e relativamente mais leves, características que lhes garantem sucesso durante a subida nas árvores para para predar as aves.

 

Foto: Agência FAPESP/ Divulgação.

O seu período reprodutivo parece acontecer entre os meses de março e julho e o nascimento dos filhotes ocorre nos primeiros meses do ano. Não se sabe ao certo quantos ovos são postos por esses animais, mas acredita-se que a taxa de natalidade seja baixa, uma vez que os ninhos costumam não ultrapassar a marca de 10 filhotes.

Ameaças

Apesar do grande número de indivíduos, essa espécie está longe de estar a salvo da extinção. Infelizmente, uma pesquisa recente indicou uma queda populacional significativa dessa população. Entre os anos de 1995 e 1998, encontrava-se, em média, 46 espécimes por dia. Já hoje, essa média atinge o marco de 22 jararacas por dia. 

Acredita-se que isso se explique, principalmente pela retirada ilegal desses animais para o tráfico, levando ao reconhecimento da espécie como Criticamente em Perigo (CR) a nível nacional e internacional.

 

Foto: Agência FAPESP/ Divulgação.

Visita à Ilha das Cobras

Felizmente para os receosos e infelizmente para os curiosos, o acesso a essa ilha foi fechado pelo governo brasileiro para proteger os humanos e claro, a espécie. Pouquíssimos pesquisadores podem conhecer este local após obterem uma aprovação específica e precisam ser escoltados por médicos especialistas.

 

Aqui na nossa plataforma, vocês podem conferir 2 registros sensacionais feitos por um de nossos biofacers. Se você, algum dia, tiver o privilégio de conhecê-las de perto, não deixe de compartilhar conosco.

A jararaca que habita a Ilha de Alcatrazes

Bem ali, sobre a magnífica floresta que recobre o arquipélago de Alcatrazes, está abrigada a endêmica jararaca-de-alcatrazes (Bothrops alcatraz). Essa ilha está localizada no estado de São Paulo, próximo ao município de São Sebastião do litoral norte.

 

foto: Pedro Peloso.

Características e alimentação

Apesar de também habitar uma ilha, essa possui hábitos e características totalmente diferentes daquela que conversamos agora a pouco. De início, podemos notar o seu pequeno tamanho que não passa de meio metro de comprimento.

Com a ausência de pequenos mamíferos na ilha, também teve que se adaptar aos recursos locais. Isso a levou a se alimentar quase exclusivamente de lacraias e baratas que populam o chão. Pesquisadores acreditam que essa dieta de baixo valor nutricional durante os milhares de anos, provocou o tamanho diminuto da espécie.

Ainda assim, na calada da noite, período em que está ativa, é possível encontrá-la entre as bromélias da floresta, prontas para se alimentar de algum anfíbio desatento. Já durante o dia, repousa sobre os troncos caídos, vegetação rasteira ou ainda, nos poleiros das aves.  

 

Foto: Instituto Butantan.

Ameaças

Inicialmente, a Ilha de Alcatrazes era utilizada pelos militares da Marinha para treino de artilharia. Vez ou outra, esses tiros provocavam incêndios nas florestas e consequentemente, punham em risco toda a biodiversidade local. Em 2013, essa ação foi suspensa e os tiros passaram a ser realizados em outro local, principalmente porque ali habitava uma espécie que tinha grande potencial para fabricação de novos medicamentos.

Estima-se que a sua população seja formada por cerca de 2 mil indivíduos. E, mais uma vez, essa abundância não é sinônimo de uma situação pouco preocupante, já que, hoje, encontram-se listadas como Criticamente em Perigo (CR) a nível nacional e internacional. 

Recentemente, um grupo de especialistas fez um levantamento demográfico e tudo indica que em breve, essa espécie ocupará uma categoria de menor risco.

Como faço para encontrá-la?

Durante muito tempo, essa ilha permaneceu fechada para visitantes. Poucas pessoas conseguiam permissão para fazer mergulhos por lá, normalmente, só com grandes projetos de pesquisa aprovados.

Atualmente, o mergulho de turismo é liberado, mas com uma quantidade máxima de embarcações diárias, tudo muito restrito para causar o mínimo de perturbação possível. Mas ainda não é permitida o desembarque de turistas e amantes da vida selvagem da ilha.

E aí, gostou de saber um pouco mais sobre essas incríveis serpentes? Compartilhe esse conteúdo com aquela pessoa que também vai gostar de ler!

 

Texto por Aléxia Ferraz

Revisado por Jéssica Amaral Lara

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