Fotografia subaquática: desafios e dicas para mergulhar de cabeça
No Dia da Água, mergulhamos fundo na fotografia subaquática, trazendo à tona como podemos registrar a fascinante vida selvagem que habita ecossistemas ricos e, muitas vezes, desconhecidos.
Existem diversas formas de registrar a biodiversidade ao redor do mundo e eternizar momentos únicos e inesquecíveis. Enquanto alguns preferem apenas observar, seja a olho nu ou com binóculos, os fotógrafos – amadores ou profissionais – dedicam-se incansavelmente à busca por cliques e filmagens impressionantes.

Recentemente, compartilhamos dicas e instruções para quem está dando os primeiros passos na fotografia de vida selvagem. Investir em bons equipamentos, estudar e praticar bastante são fatores essenciais para dominar as técnicas e alcançar excelentes resultados, tornando essa paixão ainda mais gratificante.
Enquanto a fotografia tradicional, principalmente aliada à observação de aves, pode ser feita até mesmo do quintal de sua casa, a modalidade subaquática não é tão simples assim. Apesar de sua maior complexidade, a recompensa é grandiosa.

O que são ecossistemas aquáticos?
Considerando que os ambientes marinhos e os de água doce compõem 70% da superfície terrestre, a fotografia subaquática torna-se uma porta de entrada para um mundo fascinante a se descobrir e registrar. Porém, é necessário conhecer e entender o local a ser explorado.
Rios e lagos, mares e oceanos – cada ambiente aquático contará com fatores abióticos e bióticos que os tornam únicos, diretamente relacionados com a vida presente em cada região e até mesmo, com o tipo e as técnicas de fotografia a serem utilizadas, como a incidência de luz, presença de matéria orgânica, correnteza e temperatura.

No Biofaces, contabilizando somente os peixes, grupo exclusivamente aquático, já temos 997 espécies registradas. Além destes, também há inúmeros registros de outros grupos com espécies aquáticas e/ou semiaquáticas:
Répteis: tartarugas, cobras e até lagartos;
Mamíferos: cetáceos, sirênios, pinípedes, dependentes da água, além daqueles exímios nadadores, como antas, lontras, ursos e outros;
Aves: Além dos pinguins, há registros de aves mergulhadoras, como os atobás;

E o que é a fotografia subaquática?
Neste ramo, incluem-se todas as fotografias tiradas com a câmera submersa. O registro pode ser feito próximo à superfície, com o uso de snorkels, ou até mesmo com o fotógrafo permanecendo embarcado e apenas submergindo o equipamento.
No entanto, o método mais comum (e empolgante) envolve o mergulho, seja com cilindros de oxigênio ou, em casos mais raros, com veículos subaquáticos.
Conversamos com o biofacer Felipe Vasquinho, especialista em fotografias e mergulhos subaquáticos, e coletamos algumas dicas para quem deseja mergulhar nesse novo desafio. A partir daqui, você vai conferir a opinião de quem entende do assunto e se destaca em nossa plataforma.

A primeira questão abordada é uma das mais importantes: para ser um bom fotógrafo submerso, é necessário ser um bom mergulhador? Sim! Além do domínio das técnicas de fotografia e dos seus equipamentos, a pessoa precisa dominar e entender as dinâmicas da água.
A primeira grande diferença está na estabilização, esqueça a posição de “travar as pernas”, o tripé e até mesmo qualquer tipo de apoio, nesta nova realidade, você estará flutuando e a mercê das movimentações da coluna d’água.
Quais os melhores equipamentos para fotografia subaquática?
Antes de tudo, além dos principais pré-requisitos discutidos nessa matéria: dominar os conceitos (estude!) da fotografia subaquática e suas habilidades como fotógrafo, não são o suficiente, você também precisa investir na sua aptidão como mergulhador.
Caso o seu objetivo seja apenas gravar de maneira recreativa, as câmeras compactas (GoPro, Olympus ou Osmo) e até mesmo o seu celular, são opções mais simples e acessíveis. Porém, se você deseja resultados mais complexos, especializando na fotografia, dê uma olhada nos tipos de câmeras profissionais.
Caixa estanque
Equipamento indispensável para esta atividade, oferecem segurança e resistência às câmeras. É necessário verificar a compatibilidade e o tipo certo de acordo com a lente da sua câmera.
Alguns modelos são produzidos somente no exterior e precisam ser importados, elevando os valores da aquisição.
Marcas mais famosas: Aquatech, Nauticam, Ikelite, Seafrogs e Aquatica.

Alguns modelos possuem a parte frontal da caixa removível e podem ser vendidas separadamente, possibilitando a troca de acordo com a lente.

Luz
Fotografar perto da superfície (até 5m) permite aproveitar a luz natural do sol, mas pode exigir correção manual das cores (veja o próximo tópico). Para mergulhos mais profundos, o uso de lanternas ou flash é recomendado, também garantindo a reprodução fiel das cores na imagem.
Marcas mais famosas: Sea & Sea, Keldan e Kraken.
Flash
Utilizado apenas para registros fotográficos, funciona como um flash padrão (mais potente), disparando junto ao clique. Alguns modelos possuem controle e ajuste próprio.

Lanterna
Podem ficar ligadas durante o tempo que você quiser. Alguns modelos também possuem controles para ajuste – alguns mais sofisticados, controlam a intensidade.

Equipamentos de mergulho
A maioria das operadoras de locais de mergulho fornecem os principais equipamentos para alugar durante o tempo necessário, como os maiores e mais pesados: coletes, reguladores e lastros. Porém, para alguns equipamentos que podem proporcionar maior conforto e ajuste, recomenda-se a compra, como nadadeiras, máscaras e snorkel.
O Felipe indica máscaras pretas e com acabamento de silicone, assim, a luz solar não entrará pelas laterais e facilitará o seu foco na fotografia.
Marcas mais famosas: Seasub, Cressi, Mares e ScubaPro.
Roupa de mergulho
Nos locais de mergulho, também é possível alugar roupas, mas elas podem estar desgastadas, não se ajustarem perfeitamente ao seu corpo ou não serem adequadas ao seu propósito e à temperatura da água.
Há algumas variações e tipos de roupas de mergulho: secas, semi-secas, molhadas, curtas e longas, além de diferentes espessuras, uma das características mais importantes. A escolha deve ser feita de acordo com a temperatura da água e o ajuste de flutuabilidade. Quanto maior a espessura, maior a capacidade de retenção de calor em águas frias. No entanto, isso também aumenta a flutuação, exigindo um ajuste adequado do lastro.
Vasquinho recomenda o uso da roupa molhada longa de 5mm, que proporciona proteção contra águas-vivas, caravelas, ouriços e outros animais marinhos, além de oferecer resistência ao frio e fácil ajuste ao lastro.
Marcas mais famosas: Cressi, Tusa, Atlas, Mares, Seasub e Aqualung.

Devemos salientar que a maioria dos equipamentos descritos possuem tipos e modelos mais acessíveis, porém, não são aquisições baratas. Se você deseja ingressar no mundo da fotografia subaquática, recomendamos utilizar os equipamentos que já possui, adaptando-o e utilizando pelo menos, a caixa estanque.
A sua câmera, profissional ou compacta, e até o seu celular podem ser utilizados neste início. Se você se apaixonar pela prática e deseja se especializar, estude e invista cada vez mais, em equipamentos e profissionalização.
Cores e edição
É importante entender que as cores capturadas embaixo d’água não agem da mesma maneira comparadas à superfície, pois a água e a intensidade da luz solar interferem nessa dinâmica.
Quanto mais profundo, menos cores estão presentes, devido à diferença de comprimento de onda para cada cor. Vermelho e laranja somem primeiro – azul e verde, por último. Assim, as fotos no fundo ficam azuladas e esverdeadas.

Para diminuir essa diferença, você pode fotografar mais próximo a superfície e aproveitar a luz do sol, mas ainda assim, será necessário corrigir as luzes e cores na edição. Outra opção é utilizar o flash ou lanternas descritos acima, que ajudam na captação das cores “originais”, mas requerem um gasto financeiro maior e conhecimento sobre os equipamentos.
Principais edições
Além das edições básicas e principais, como exposição, contraste e saturação, a colorização, mas principalmente, o ajuste do balanço de branco, pode transformar a sua fotografia e deixar as cores mais fidedignas.
Acompanhe o processo de edição feito e explicado detalhadamente pelo biofacer Felipe Vasquinho:

- Fotografia azulada, cores fora da realidade, subexposta e com pouco contraste;
- Primeiras correções, principalmente o balanço de branco – cores ainda destoantes;
- Correção da exposição e contraste – roxo ainda infiel à realidade;
- Correção das cores e ajustes finais – foto final;
Estude e busque referências de profissionais que você gosta para ter bons exemplos. Com a prática, você vai desenvolver o seu estilo e entender quais aplicativos possuem as melhores ferramentas (como Lightroom e Photoshop).
Por fim, é hora de mergulhar e fotografar!
No início, procure águas mais calmas e cristalinas, pois a instabilidade e a variância de luz são seus maiores obstáculos. Com a bateria da câmera bem carregada e o cartão de memória funcionando corretamente, utilize o foco automático, deixando a velocidade do obturador mais alta (a partir de 1/100) e a abertura mais fechada, a partir de f.4.
Assim como na fotografia terrestre, há boas práticas e recomendações que devem ser respeitadas para não estressar e interferir na vida selvagem. Confira as dicas do Felipe Vasquinho:
- Cuidado para não esbarrar em corais, assustar algum animal ou interromper algum comportamento natural. Não tente manipular a vida marinha apenas para conseguir sua foto;
- Olha a fila! Dê chance para outros fotógrafos tirarem foto da mesma coisa que você;
- Ocupe o mesmo espaço que um mergulhador sem câmera;
- Teste a câmera fora d’água, e cheque por vazamentos assim que entrar nela;
- Observe o posicionamento de fotógrafos mais experientes que você. Provavelmente eles estarão melhores posicionados e a foto final será mais interessante. Aprenda com eles, pergunte tudo o que quiser saber;
- Aprenda a administrar seu tanque de oxigênio para ter mais tempo de mergulho;
- Tenha paciência, pratique muito e aproveite o processo!
Agradecemos ao Felipe Vasquinho pelas dicas e ajuda no levantamento de informações para a criação deste blog e também recomendamos o material produzido pelo Underwater Photography Guide, o Profundo no Mundo, e Backscatter Underwater.
Agora que você já entendeu os principais pontos para explorar o mundo aquático, separe os seus equipamentos e prepare o seu mergulho! Esperamos que você encontre paisagens fantásticas e aguardamos os seus registros no Biofaces!
Texto por: Kleyton Camargo
Assessoria: Felipe Vasquinho
Revisado por: Jéssica Amaral Lara