Tubarão-tigre (Galeocerdo cuvier) fotografado por Felipe Vasquinho em Tiger Beach, Bahamas

Fotografia subaquática: desafios e dicas para mergulhar de cabeça

No Dia da Água, mergulhamos fundo na fotografia subaquática, trazendo à tona como podemos registrar a fascinante vida selvagem que habita ecossistemas ricos e, muitas vezes, desconhecidos.  

Existem diversas formas de registrar a biodiversidade ao redor do mundo e eternizar momentos únicos e inesquecíveis. Enquanto alguns preferem apenas observar, seja a olho nu ou com binóculos, os fotógrafos – amadores ou profissionais – dedicam-se incansavelmente à busca por cliques e filmagens impressionantes.

Peixe-escorpião-pontuado fotografado na na Baía de Todos-os-Santos, BA.
Registro feito pelo biofacer Rodrigo Maia na Baía de Todos-os-Santos, BA.

Recentemente, compartilhamos dicas e instruções para quem está dando os primeiros passos na fotografia de vida selvagem. Investir em bons equipamentos, estudar e praticar bastante são fatores essenciais para dominar as técnicas e alcançar excelentes resultados, tornando essa paixão ainda mais gratificante.

Enquanto a fotografia tradicional, principalmente aliada à observação de aves, pode ser feita até mesmo do quintal de sua casa, a modalidade subaquática não é tão simples assim. Apesar de sua maior complexidade, a recompensa é grandiosa.

 

Uma foto de um Baiacu-de-espinho fotografado por Leonardo Merçon em Vitória, ES.
Baiacu-de-espinho registrado por Leonardo Merçon em Vitória, ES.

 

O que são ecossistemas aquáticos?

Considerando que os ambientes marinhos e os de água doce compõem 70% da superfície terrestre, a fotografia subaquática torna-se uma porta de entrada para um mundo fascinante a se descobrir e registrar. Porém, é necessário conhecer e entender o local a ser explorado.

Rios e lagos, mares e oceanos – cada ambiente aquático contará com fatores abióticos e bióticos que os tornam únicos, diretamente relacionados com a vida presente em cada região e até mesmo, com o tipo e as técnicas de fotografia a serem utilizadas, como a incidência de luz, presença de matéria orgânica, correnteza e temperatura.

 

Peixe Dourado fotografado nas águas cristalinas do Recanto Ecológico Rio da Prata, MS.
Dourado fotografado nas águas cristalinas do Recanto Ecológico Rio da Prata, MS.

No Biofaces, contabilizando somente os peixes, grupo exclusivamente aquático, já temos 997 espécies registradas. Além destes, também há inúmeros registros de outros grupos com espécies aquáticas e/ou semiaquáticas:

Répteis: tartarugas, cobras e até lagartos;

Mamíferos: cetáceos, sirênios, pinípedes, dependentes da água, além daqueles exímios nadadores, como antas, lontras, ursos e outros;

Aves: Além dos pinguins, há registros de aves mergulhadoras, como os atobás;

Fotografia de um tubarão-martelo-panã feito por Felipe Vasquinho em Bimini, Bahamas.
Fotografia de um tubarão-martelo-panã feito por Felipe Vasquinho em Bimini, Bahamas.

 

E o que é a fotografia subaquática?

Neste ramo, incluem-se todas as fotografias tiradas com a câmera submersa. O registro pode ser feito próximo à superfície, com o uso de snorkels, ou até mesmo com o fotógrafo permanecendo embarcado e apenas submergindo o equipamento. 

No entanto, o método mais comum (e empolgante) envolve o mergulho, seja com cilindros de oxigênio ou, em casos mais raros, com veículos subaquáticos.

Conversamos com o biofacer Felipe Vasquinho, especialista em fotografias e mergulhos subaquáticos, e coletamos algumas dicas para quem deseja mergulhar nesse novo desafio. A partir daqui, você vai conferir a opinião de quem entende do assunto e se destaca em nossa plataforma.

 

Felipe Vasquinho fotografando um tubarão-tigre em Tiger Beach, Bahamas, registrado por Tanner Mansell.
Felipe Vasquinho fotografando um tubarão-tigre em Tiger Beach, Bahamas, registrado por Tanner Mansell.

A primeira questão abordada é uma das mais importantes: para ser um bom fotógrafo submerso, é necessário ser um bom mergulhador? Sim! Além do domínio das técnicas de fotografia e dos seus equipamentos, a pessoa precisa dominar e entender as dinâmicas da água.

A primeira grande diferença está na estabilização, esqueça a posição de “travar as pernas”, o tripé e até mesmo qualquer tipo de apoio, nesta nova realidade, você estará flutuando e a mercê das movimentações da coluna d’água.

 

Quais os melhores equipamentos para fotografia subaquática?

Antes de tudo, além dos principais pré-requisitos discutidos nessa matéria: dominar os conceitos (estude!) da fotografia subaquática e suas habilidades como fotógrafo, não são o suficiente, você também precisa investir na sua aptidão como mergulhador

Caso o seu objetivo seja apenas gravar de maneira recreativa, as câmeras compactas (GoPro, Olympus ou Osmo) e até mesmo o seu celular, são opções mais simples e acessíveis. Porém, se você deseja resultados mais complexos, especializando na fotografia, dê uma olhada nos tipos de câmeras profissionais.

 

Caixa estanque 

Equipamento indispensável para esta atividade, oferecem segurança e resistência às câmeras. É necessário verificar a compatibilidade e o tipo certo de acordo com a lente da sua câmera

Alguns modelos são produzidos somente no exterior e precisam ser importados, elevando os valores da aquisição.

Marcas mais famosas: Aquatech, Nauticam, Ikelite, Seafrogs e Aquatica.

 

(à esquerda) Caixa estanque Seafrogs 40M/130FT - (à direita) Caixa estanque Seafrogs for Sony A1 UW/Dome Port V.8.
(à esquerda) Caixa estanque Seafrogs 40M/130FT – (à direita) Caixa estanque Seafrogs for Sony A1 UW/Dome Port V.8.

 

Alguns modelos possuem a parte frontal da caixa removível e podem ser vendidas separadamente, possibilitando a troca de acordo com a lente.

(à esquerda) Caixa estanque Seafrogs SeaFrogs A7R IV com porta cúpula removível - (à direita) Caixa estanque para GoPro 5/6/7.
(à esquerda) Caixa estanque Seafrogs SeaFrogs A7R IV com porta cúpula removível – (à direita) Caixa estanque para GoPro 5/6/7.

 

Luz

Fotografar perto da superfície (até 5m) permite aproveitar a luz natural do sol, mas pode exigir correção manual das cores (veja o próximo tópico). Para mergulhos mais profundos, o uso de lanternas ou flash é recomendado, também garantindo a reprodução fiel das cores na imagem.

Marcas mais famosas: Sea & Sea, Keldan e Kraken.

 

Flash

Utilizado apenas para registros fotográficos, funciona como um flash padrão (mais potente), disparando junto ao clique. Alguns modelos possuem controle e ajuste próprio.

 

Acessórios para fotografia subaquática, com luzes destacadas. Crédito: Ultra Light Control Systems
Acessórios para fotografia subaquática, com luzes destacadas. Crédito: Ultra Light Control Systems

Lanterna

Podem ficar ligadas durante o tempo que você quiser. Alguns modelos também possuem controles para ajuste – alguns mais sofisticados, controlam a intensidade.

Lanterna Keldan para fotografia subaquática.
Lanterna Keldan para fotografia subaquática.

Equipamentos de mergulho

A maioria das operadoras de  locais de mergulho fornecem os principais equipamentos para alugar durante o tempo necessário, como os maiores e mais pesados: coletes, reguladores e lastros. Porém, para alguns equipamentos que podem proporcionar maior conforto e ajuste, recomenda-se a compra, como nadadeiras, máscaras e snorkel.

O Felipe indica máscaras pretas e com acabamento de silicone, assim, a luz solar não entrará pelas laterais e facilitará o seu foco na fotografia.

Marcas mais famosas: Seasub, Cressi, Mares e ScubaPro.

 

Roupa de mergulho


Nos locais de mergulho, também é possível alugar roupas, mas elas podem estar desgastadas, não se ajustarem perfeitamente ao seu corpo ou não serem adequadas ao seu propósito e à temperatura da água.

Há algumas variações e tipos de roupas de mergulho: secas, semi-secas, molhadas, curtas e longas, além de diferentes espessuras, uma das características mais importantes. A escolha deve ser feita de acordo com a temperatura da água e o ajuste de flutuabilidade. Quanto maior a espessura, maior a capacidade de retenção de calor em águas frias. No entanto, isso também aumenta a flutuação, exigindo um ajuste adequado do lastro.

Vasquinho recomenda o uso da roupa molhada longa de 5mm, que proporciona proteção contra águas-vivas, caravelas, ouriços e outros animais marinhos, além de oferecer resistência ao frio e fácil ajuste ao lastro.

Marcas mais famosas: Cressi, Tusa, Atlas, Mares, Seasub e Aqualung.

 

Roupa de mergulho neoprene Atlas soft com 5,5mm.
Roupa de mergulho neoprene Atlas soft com 5,5mm.

Devemos salientar que a maioria dos equipamentos descritos possuem tipos e modelos mais acessíveis, porém, não são aquisições baratas. Se você deseja ingressar no mundo da fotografia subaquática, recomendamos utilizar os equipamentos que já possui, adaptando-o e utilizando pelo menos, a caixa estanque.

A sua câmera, profissional ou compacta, e até o seu celular podem ser utilizados neste início. Se você se apaixonar pela prática e deseja se especializar, estude e invista cada vez mais, em equipamentos e profissionalização.

 

Cores e edição

É importante entender que as cores capturadas embaixo d’água não agem da mesma maneira comparadas à superfície, pois a água e a intensidade da luz solar interferem nessa dinâmica.

Quanto mais profundo, menos cores estão presentes, devido à diferença de comprimento de onda para cada cor. Vermelho e laranja somem primeiro – azul e verde, por último. Assim, as fotos no fundo ficam azuladas e esverdeadas.

 

Perda do comprimento de cores conforme a profundidade esquematizada por Bate-Papo com Netuno.
Perda do comprimento de cores conforme a profundidade esquematizada por Bate-Papo com Netuno.

Para diminuir essa diferença, você pode fotografar mais próximo a superfície e aproveitar a luz do sol, mas ainda assim, será necessário corrigir as luzes e cores na edição. Outra opção é utilizar o flash ou lanternas descritos acima, que ajudam na captação das cores “originais”, mas requerem um gasto financeiro maior e conhecimento sobre os equipamentos.

 

Principais edições

Além das edições básicas e principais, como exposição, contraste e saturação, a colorização, mas principalmente, o ajuste do balanço de branco, pode transformar a sua fotografia e deixar as cores mais fidedignas.

Acompanhe o processo de edição feito e explicado detalhadamente pelo biofacer Felipe Vasquinho:

 

Fotografia subaquática de um tubarão-tigre, registrado e editado por Felipe Vasquinho
Fotografia subaquática de um tubarão-tigre, registrado e editado por Felipe Vasquinho.
  1. Fotografia azulada, cores fora da realidade, subexposta e com pouco contraste;
  2. Primeiras correções, principalmente o balanço de branco – cores ainda destoantes;
  3. Correção da exposição e contraste – roxo ainda infiel à realidade;
  4. Correção das cores e ajustes finais – foto final;

Estude e busque referências de profissionais que você gosta para ter bons exemplos. Com a prática, você vai desenvolver o seu estilo e entender quais aplicativos possuem as melhores ferramentas (como Lightroom e Photoshop).

 

Por fim, é hora de mergulhar e fotografar!

No início, procure águas mais calmas e cristalinas, pois a instabilidade e a variância de luz são seus maiores obstáculos. Com a bateria da câmera bem carregada e o cartão de memória funcionando corretamente, utilize o foco automático, deixando a velocidade do obturador mais alta (a partir de 1/100) e a abertura mais fechada, a partir de f.4.

 

Assim como na fotografia terrestre, há boas práticas e recomendações que devem ser respeitadas para não estressar e interferir na vida selvagem. Confira as dicas do Felipe Vasquinho:

  • Cuidado para não esbarrar em corais, assustar algum animal ou interromper algum comportamento natural. Não tente manipular a vida marinha apenas para conseguir sua foto;
  • Olha a fila! Dê chance para outros fotógrafos tirarem foto da mesma coisa que você;
  • Ocupe o mesmo espaço que um mergulhador sem câmera;
  • Teste a câmera fora d’água, e cheque por vazamentos assim que entrar nela;
  • Observe o posicionamento de fotógrafos mais experientes que você. Provavelmente eles estarão melhores posicionados e a foto final será mais interessante. Aprenda com eles, pergunte tudo o que quiser saber;
  • Aprenda a administrar seu tanque de oxigênio para ter mais tempo de mergulho;
  • Tenha paciência, pratique muito e aproveite o processo!

 

Agradecemos ao Felipe Vasquinho pelas dicas e ajuda no levantamento de informações para a criação deste blog e também recomendamos o material produzido pelo Underwater Photography Guide, o Profundo no Mundo, e Backscatter Underwater

Agora que você já entendeu os principais pontos para explorar o mundo aquático, separe os seus equipamentos e prepare o seu mergulho! Esperamos que você encontre paisagens fantásticas e aguardamos os seus registros no Biofaces!

 

Texto por: Kleyton Camargo

Assessoria: Felipe Vasquinho

Revisado por: Jéssica Amaral Lara

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