Ilustração científica: ferramenta estratégica para a ciência-cidadã e conservação

Imagine a dificuldade em descrever e retratar a biodiversidade sem os adventos tecnológicos que possuímos hoje, utilizando apenas a observação ou até mesmo relatos de terceiros. Por muito tempo, a ilustração científica foi a única ferramenta disponível para reproduzir as formas de vida e suas estruturas.

Mas não pense que a importância das ilustrações se limita ao passado. Até hoje, ela permanece uma ferramenta essencial para a pesquisa,  divulgação da ciência e conservação ambiental. Continue com a gente e entenda como seus dotes artísticos podem contribuir para a ciência-cidadã.

 

Desenho dos animais - ararajuba
Desenho científico de um casal de ararajuba (Guaruba guarouba), por Flávio Sousa.

 

O que é a ilustração científica?

A ilustração científica é uma forma de arte que integra métodos de desenho com técnicas científicas para representar o objeto de estudo com a maior precisão possível. Diferentemente de outras expressões artísticas, seu fundamento principal está na fidelidade aos detalhes reais, e não na livre criatividade.

No entanto, isso não limita as habilidades e estilos dos ilustradores científicos, apenas direciona seu talento para a tradução de informações complexas em representações visuais que podem ser facilmente compreendidas por diferentes públicos, desde especialistas até entusiastas e leigos. 

Independente do estilo ou especialidade, o ilustrador científico representa um elo vital entre a pesquisa científica e sua divulgação eficaz ao público em geral. 

 

Desenho dos animais - gavião-de-penacho
Ilustração científica de um gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), por Tiago Felipe.

 

Quais os principais estilos de ilustração científica?

Cada artista possui suas próprias técnicas de criação, e para cada grupo da fauna e flora a ser representado também existem estilos recomendados. Atualmente, além dos diversos métodos à mão livre, também se utiliza amplamente a ilustração digital.

A técnica mais tradicional na ilustração científica é a pintura, especialmente em aquarela, utilizada há séculos na documentação da natureza. Atualmente, somam-se a ela uma ampla variedade de lápis, canetas e outros materiais que permitem  a criação de obras minuciosamente detalhadas em papel.

Recentemente, as ilustrações digitais têm ganhado uma importante notoriedade, oferecendo novas possibilidades, maior flexibilidade no processo, eficiência na produção, facilidade nas revisões e integração perfeita com outros formatos multimídia. 

 

Desenho dos animais - cará
Ilustração científica digital de um cará (Gymnogeophagus gymnogenys), por Renan Strauss.

 

E qual a importância da ilustração científica?

Desde os primórdios da humanidade, a representação do mundo natural  por meio de desenhos tem sido parte integral da comunicação humana, começando pelas pinturas rupestres. 

Embora essas primeiras representações não fossem cientificamente precisas, já revelavam o desejo de retratar o que era observado e a necessidade de compartilhar a informação, refletindo um impulso humano em documentar e comunicar visões do mundo natural. 

Esta necessidade ancestral de registrar visualmente a fauna e flora ao redor reflete uma curiosidade inata que, séculos depois, evoluiria para o que hoje conhecemos como ilustração.

 

Pinturas rupestres na Amazônia colombiana
Pinturas rupestres em Cerro Azul, na Amazônia colombiana, retratam a megafauna americana. Foto: Marina Sardiña

 

Passando por artistas da Grécia Antiga e avançando no tempo até o Renascimento, no século XIV – artistas como Leonardo da Vinci começaram a integrar observações científicas detalhadas em suas obras, proporcionando visualizações precisas de anatomia humana e fenômenos naturais.

Artigos e livros históricos importantes para a ciência, antes do advento e popularização da fotografia, tinham esses desenhos como único método de representação.

 

Charles Darwin e a Origem das Espécies (1ª edição: 1859)

Neste famoso e disruptivo livro, Darwin apresentou a teoria da evolução por meio da seleção natural. Charles compilou evidências de suas observações feitas ao longo dos anos, principalmente em viagens realizadas pelo mundo no HMS Beagle

Sem o advento da fotografia ou métodos de impressão tecnológicos à disposição, o autor utilizava as ilustrações como uma forma eficiente para retratar e representar os conceitos explicados e animais abordados, facilitando o compreendimento do leitor. 

 

Ilustração científica de pombo-inglês-de-face-curta - Darwin
Ilustração científica de pombo-inglês-de-face-curta publicada originalmente na obra  “A Variação de Animais e Plantas sob Domesticação”, em 1868.

 

Os famosos tentilhões de galápagos (ou de Darwin), do qual o autor descreve a seleção natural baseada no formato do bico e hábitos alimentares das aves – foram citados no livro Origem das Espécies e desenhados pelo famoso ilustrador e ornitólogo John Gould.

Desenho científico dos tentilhões de Darwin
Desenho científico dos tentilhões de Darwin publicado oficialmente no livro: Diário de Pesquisas Geológicas e de História Natural dos Diversos Países Visitados pelo H.M.S. Beagle, em 1832

 

A anatomia das plantas, por Nehemiah Grew (1ª edição 1862)

Escrito por Nehemiah Grew, um médico e botânico inglês, o livro apresenta descrições minuciosas e ilustrações dos tecidos e órgãos vegetais, como raízes, caules, folhas e flores. 

Detalhando a estrutura interna das plantas, este foi um trabalho pioneiro para a botânica. Após observação feita por microscópio, o pesquisador retratou o que via por meio de ilustrações científicas, revelando um novo mundo, inacessível à olhos nus.

 

Desenho científico botânico de Anatomia das Plantas de 1682
Desenho científico botânico de: Anatomia das Plantas, por Nehemiah Grew, 1682.

 

Paleoarte: representando a biodiversidade extinta

Nossas câmeras atuais são realmente incríveis! Com tecnologia de ponta, elas nos permitem capturar momentos do mundo real com uma nitidez impressionante. Porém, mesmo com todo esse avanço tecnológico, há algo que elas nunca poderão fazer: fotografar os animais que já desapareceram do nosso planeta.

A paleoarte é uma intersecção entre arte e a biologia paleontológica, dedicada a ilustrar espécies que viveram há milhares ou milhões de anos. A representação desses animais extintos deve ser feita da maneira mais fiel possível, seguindo as características e descobertas científicas mais recentes.

 

Ilustração científica digital de um Tupandactylus imperator - Crédito Rafael Costa
Ilustração científica digital de um Tupandactylus imperator, por Rafael Costa.

 

O biofacer Rafael Costa, biólogo e artista, possui em seu portfólio pinturas incríveis, utilizando diversos estilos. Além das espécies atuais, ele também se dedica a ilustrar espécies extintas, especialmente dinossauros e pterossauros, trazendo-os “de volta à vida” através de sua arte.

Quando perguntado sobre como é retratar realidade e a vida selvagem, expressando-se através da sua arte, ele respondeu:

“Vivemos num mundo cheio de informações, mas nem sempre o conhecimento chega de forma acessível para todo mundo. Aí entra a arte. Quando você transforma um animal, vivo ou extinto, em uma pintura ou ilustração, você está ajudando a contar a história da vida na Terra de um jeito mais visual. A ilustração científica não é só estética, ela é uma ponte entre ciência e público.” 

 

Arte científica de uma coruja-buraqueira
Arte científica de uma coruja-buraqueira (Athene cunicularia), por Rafael Costa.

 

 

1º Desafio de Desenho Biofaces

Em nossa plataforma, temos uma categoria dedicada exclusivamente às ilustrações, reforçando a importância dessa frente para a promoção da ciência-cidadã, e claro, para a conservação da biodiversidade.

Neste mês, inspirados pelo sucesso do desafio de fotografia realizado em janeiro deste ano (relembre e conheça as fotos vencedoras), e entusiasmados  com o Dia Mundial do Desenhista (15/04), lançamos  o 1º Desafio de Desenho do Biofaces!

De 1º a 27 de abril, todas as ilustrações publicadas no Biofaces estarão concorrendo neste  desafio especial. Para isso, preparamos um formato que permite explorar e apreciar toda a diversidade do reino animal.

As regras e dicas para participar são bem simples, basta:

  • Postar os seus desenhos normalmente até o dia 27/04 (veja abaixo um passo-a-passo);
  • Todos os estilos de desenho são válidos, desde o preto e branco até a arte digital;
  • Dividimos os grupos animais em dois períodos distintos, incentivando os ilustradores a explorar suas habilidades artísticas com diferentes formas e cores.

 

1º grupo (01/04 a 14/04):

Grupo 1: Aves, aracnídeos e herpetofauna (anfíbios e répteis).

 

2º grupo (15/04 a 27/04):

Grupo 2: Mamíferos, peixes e insetos.

 

Atente-se aos critérios para escolha das ilustrações vencedoras: 

  • A fidelidade à realidade e morfologia do animal desenhado é primordial;
  • Ilustrações mais nítidas e de melhor qualidade terão preferência;
  • A dificuldade do desenho, a raridade de publicações da espécie na plataforma e seu status de conservação podem ser diferenciais;
  • Atenção a data: ilustrações do grupo postados no período em questão, ganham ponto para desempate.

 

Ao final do Desafio, divulgaremos as melhores ilustrações em nossas redes, proporcionando visibilidade ao seu talento! 

 

Poste a sua ilustração científica no Biofaces!

É novo por aqui? Para se tornar um biofacer e contribuir com a ciência-cidadã é muito fácil:

 

  • Acesse a plataforma através do site www.biofaces.com;
  • Clique em “Cadastre-se”, no canto superior direito;

Como postar no Biofaces 1

  • Faça o seu cadastro de maneira simples e gratuita!

Como se registrar no Biofaces

  • Após se cadastrar, clique em Postar no canto superior direito*;

 

Como postar no Biofaces
*Confira as regras e indicações de postagem

Suba quantas ilustrações você quiser! Ao compartilhar a sua arte, você estará fazendo parte de uma comunidade de apaixonados pela fauna e ainda contribuirá com a ciência-cidadã!

 

Texto por: Kleyton Camargo – Greenbond Conservation

Revisado por: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation

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