Tudo o que você precisa saber sobre lontras e ariranhas
No Dia Mundial das Lontras, convidamos você a mergulhar no fascinante mundo desses incríveis mamíferos aquáticos. Sabia que as lontras-marinhas usam pedras como ferramentas para abrir mariscos? Ou que as ariranhas podem atingir até 1,8 metros de comprimento? Descubra neste texto tudo o que você precisa saber sobre lontras e ariranhas, conheça as diferentes espécies e entenda a importância da conservação desses animais para a saúde dos nossos ecossistemas. Vem conhecer mais sobre esses animais encantadores lendo até o final desse texto e se encante com fatos surpreendentes sobre as lontras e ariranhas!
Conhecendo as lontras
As lontras são mamíferos aquáticos pertencentes à família Mustelidae, que também inclui animais como doninhas, texugos e martas. Com corpos esguios e adaptados para a vida na água, as lontras são conhecidas por sua agilidade e comportamento brincalhão.
Elas possuem uma pelagem densa e impermeável, essencial para mantê-las aquecidas em ambientes aquáticos frios. Essa pelagem é composta por duas camadas: uma externa, que repele a água, e uma interna, que proporciona isolamento térmico.
Lontra longicaudis. Foto: Claúdio Dias Timm/Biofaces.
Esses animais são encontrados em diversos habitats ao redor do mundo, desde rios e lagos de água doce até costas marinhas. São animais sociais, embora o grau de sociabilidade varie entre as espécies. Algumas vivem solitárias ou em pequenos grupos familiares, enquanto outras formam grandes grupos sociais. A comunicação entre lontras é complexa e inclui uma variedade de vocalizações, além de sinais visuais e olfativos.
Importância Ecológica
Do ponto de vista ecológico, as lontras desempenham um papel crucial na manutenção da saúde dos ecossistemas aquáticos. Elas ajudam a controlar as populações de peixes e invertebrados, contribuindo para o equilíbrio ecológico. Além disso, a presença de lontras é frequentemente um indicador de um ambiente aquático saudável, pois elas são sensíveis à poluição e à degradação do habitat. Sua presença e comportamento fornecem informações valiosas sobre a qualidade do ambiente, além de contribuírem significativamente para o equilíbrio da teia alimentar.
Indicadores de Saúde Ambiental
São animais extremamente sensíveis às mudanças em seus habitats, especialmente à poluição da água e à degradação do habitat. Por essa razão, elas são frequentemente usadas como bioindicadores. A presença de lontras em um corpo d’água geralmente indica um ecossistema saudável e equilibrado, com água limpa e uma abundância de presas. Por outro lado, a ausência ou o declínio das populações de lontras pode sinalizar problemas ambientais, como contaminação por metais pesados, pesticidas e outros poluentes, além de destruição de habitats devido à urbanização e atividades agrícolas.
Lontra-anã-oriental (Aonyx cinereus). Foto: Biodiversity4All.
Contribuição para o Equilíbrio da Teia Alimentar
As lontras são predadoras habilidosas, com uma dieta que varia conforme a espécie e o habitat, mas geralmente inclui peixes, crustáceos, moluscos e pequenos mamíferos. Sua habilidade de caça é facilitada por suas patas com membranas interdigitais, que lhes conferem grande destreza na natação. Por não apresentarem predadores naturais, são consideradas animais topo de cadeia.
Foto: Fred Crema/Biofaces.
Desempenham um papel crucial na regulação das populações de suas presas, pois ao controlar essas populações, ajudam a manter o equilíbrio ecológico, prevenindo a superpopulação de certas espécies que poderiam levar ao esgotamento de recursos e à degradação do habitat.
Por exemplo, em ecossistemas de água doce, as lontras ajudam a controlar as populações de peixes predadores, o que pode beneficiar espécies de peixes menores e outros organismos aquáticos. Em ambientes marinhos, elas desempenham um papel fundamental no controle das populações de ouriços-do-mar. Sem a predação das lontras-marinhas, os ouriços-do-mar podem proliferar descontroladamente, levando à destruição de florestas de kelp (algas marinhas) que são habitats essenciais para muitas outras espécies oceânicas.
Conhecendo as Diferentes Espécies de Lontras
Existem 13 espécies de lontras reconhecidas ao redor do mundo, sendo encontradas em todos os continentes, exceto na Antártida e na Austrália. Elas habitam uma variedade de ambientes aquáticos, incluindo rios, lagos, pântanos, estuários e costas oceânicas. Essa ampla distribuição geográfica reflete a capacidade das lontras de se adaptarem a diferentes condições ambientais.
As lontras possuem corpos alongados e hidrodinâmicos, com membros curtos e patas com membranas interdigitais que facilitam a natação. Possuem caudas musculosas que ajudam na propulsão durante a natação.
Dentro da família Mustelidae e Subfamília Lutrinae, as lontras estão distribuídas em 7 gêneros, sendo dois gêneros considerados os principais: Lutra e Aonyx. O gênero Lutra inclui espécies como a lontra-europeia (Lutra lutra) e a lontra-neotropical (Lutra longicaudis), enquanto o gênero Aonyx inclui espécies como a lontra-de-garganta-branca (Aonyx capensis) e a lontra-de-garras-pequenas-oriental (Aonyx cinereus). Além desses, há o gênero Enhydra, que inclui a lontra-marinha (Enhydra lutris), e o gênero Pteronura, que inclui a lontra-gigante, as famosas ariranhas (Pteronura brasiliensis).
Casal de lontras-marinhas (Enhydra lutris). Foto: Cassia Bars/Biofaces.
Cada espécie de lontra possui adaptações específicas ao seu habitat. Por exemplo, a lontra-marinha é adaptada à vida nas águas costeiras do Pacífico Norte e é conhecida por sua habilidade de usar ferramentas para abrir mariscos. Em contraste, a lontra-gigante habita os rios da Amazônia e o Pantanal, é a maior das lontras, vivendo em grandes grupos familiares e exibindo um comportamento social complexo.
Foto: Suzana Camargo/Conexão Planeta.
Afinal, qual a diferença entre lontras e ariranhas?
Como você já pode perceber, ambas pertencem à mesma Família, e embora as ariranhas sejam tecnicamente uma espécie de lontra, elas possuem características peculiares que as diferenciam significativamente das outras espécies.
Lontra-neotropical (Lontra longicaudis). Foto: Diego Mosquera/Biofaces.
Tanto as lontras quanto as ariranhas possuem corpos alongados e musculosos, adaptados para a natação eficiente, contam com patas equipadas com membranas interdigitais para facilitar o movimento na água, e com uma pelagem densa e oleosa para proporcionar isolamento térmico.
Apesar das semelhanças, as lontras-gigantes ou ariranhas (Pteronura brasiliensis) possuem características particulares que as distinguem das demais espécies. As ariranhas são significativamente maiores, podendo atingir até 1,8 metros de comprimento, incluindo a cauda, enquanto a maioria das lontras têm entre 0,6 e 1,2 metros de comprimento.
Outro aspecto distintivo é o comportamento social. As ariranhas são altamente sociais e vivem em grandes grupos familiares de até 20 indivíduos, exibindo comportamentos cooperativos, como a caça em grupo e a defesa do território. Em contraste, outras espécies de lontras tendem a ser mais solitárias ou viver em pequenos grupos.
Onças d’água. Foto: André Siade/Biofaces.
As ariranhas também possuem um repertório vocal complexo, com diferentes sons para comunicação entre membros do grupo. Elas utilizam vocalizações para coordenar atividades de caça, alertar sobre perigos e manter a coesão do grupo.
Quer ouvir uma ariranha vocalizando? Clique no link e ouça esse registro de vocalização feito pelo biofacer Cláudio Dias Timm. Além desta, você pode ouvir outras vocalizações de diferentes animais da fauna do mundo todo na plataforma.
Em termos de habitat, as ariranhas são encontradas principalmente nas bacias dos rios Amazonas e Orinoco, bem como no Pantanal brasileiro. Elas preferem rios de águas claras e lagos de várzea, onde constroem tocas nas margens. No Pantanal, são conhecidas como “onça d’água”.
Ariranha guerreira. Foto: Gustavo Gaspari/Biofaces.
Visualmente, as ariranhas têm uma pelagem marrom escura com manchas brancas distintivas na garganta e no peito, que variam entre os indivíduos e ajudam na identificação pessoal dentro do grupo.
A ariranha é um dos mamíferos mais emblemáticos da Amazônia e do Pantanal brasileiros. Sua presença é um indicador da saúde dos ecossistemas aquáticos, pois requerem águas limpas e abundância de peixes para sobreviver. Então, embora as ariranhas sejam uma espécie de lontra, suas características as tornam um grupo fascinante e distinto dentro da família Mustelidae. Agora você já sabe como “diferenciar” lontras e ariranhas!
A Conservação de Lontras e Ariranhas
No Brasil, existe o Plano de Ação Nacional para a Conservação das Ariranhas (PAN Ariranhas), uma iniciativa essencial que busca proteger e conservar essas incríveis criaturas. O PAN Ariranhas desenvolve estratégias abrangentes que incluem a proteção de habitats aquáticos, a criação de áreas protegidas e a promoção de programas de educação ambiental. Essas ações são fundamentais para garantir que as ariranhas e outras espécies de lontras brasileiras possam prosperar em seus ambientes naturais.
Além disso, o PAN Ariranhas incentiva a pesquisa científica, fornecendo dados valiosos sobre o comportamento, a ecologia e as necessidades de conservação das ariranhas. Esse conhecimento é crucial para desenvolver e implementar medidas eficazes de proteção. O plano também promove a colaboração entre organizações governamentais, ONGs, pesquisadores e comunidades locais, criando uma rede de apoio robusta para a conservação das ariranhas.
Além do PAN Ariranhas, existem projetos focados na conservação desses animais como o Projeto Ariranhas, criado para proteger as ariranhas e o Projeto Lontra, desenvolvido na Ilha da Magia e dedicado à proteção das espécies de lontras brasileiras. Demais, não é mesmo?
E para todos os biofacers, a contribuição de cada um também é vital para a conservação de lontras e ariranhas. Continuem a compartilhar seus registros na plataforma do Biofaces. Essas observações contribuem para mapear a distribuição das espécies, monitorar populações e identificar áreas críticas para a conservação.
Lontras e ariranhas são realmente fantásticas! Proteger esses animais é uma responsabilidade compartilhada que requer esforços contínuos e colaboração.
Autor: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation.