Dia Mundial da Cobra relembra a importância ecológica das serpentes

Hoje, 16 de julho, é comemorado o Dia Mundial da Cobra! Mas antes de mergulhar de cabeça no universo dos seres rastejantes, gostaríamos de esclarecer um fato importante: cientificamente falando, a forma correta de nomear o animal é “serpente”. O termo “cobra” é utilizado apenas para se referir às espécies de najas. Porém, aqui no Brasil, é correto dizer tanto cobra quanto serpente, uma vez que remetem ao mesmo grupo de animais.

 

Continuando… Hoje é dia de celebrar essa importante data e promover uma reflexão sobre necessidade de conservação das serpentes ao redor do mundo! Muitas espécies encontram-se criticamente ameaçadas de extinção, inclusive algumas tipicamente brasileiras, que correm risco de sumir completamente! Os répteis possuem importante função ecológica e, se conservados, continuarão auxiliando na manutenção da biodiversidade como um todo. 

 

Azulão-bóia (Leptophis ahaetulla) || Foto: Willianilson Pessoa

 

Para falar com propriedade sobre o assunto, conversamos com o veterinário Diego Arruda, que possui ampla experiência em criação e manutenção de serpentes peçonhentas, com foco na extração de veneno e produção de imunobiológicos (ou soro antiofídico). Também trocamos uma ideia com o herpetólogo Gustavo Figueirôa, que esclareceu diversas informações sobre a subordem Ophidia

 

CARACTERÍSTICAS GERAIS

 

Por mais que a subordem compreenda inúmeras espécies diferentes, como as najas, víboras,  jibóias e pítons, por exemplo, algumas características são comuns à todas elas:

 

🐍 Corpo longo e esguio, coberto por escamas e com a ausência de patas;

🐍 Não possuem sínfise mandibular, ou seja, a mandíbula não é conectada como a de outros animais, por exemplo nós, humanos. Elas não possuem “queixo”. Por conta disso, são capazes de abrir a boca em tamanhos maiores do que seu próprio corpo, a fim de engolir suas presas inteiras;

🐍 As serpentes são praticamente surdas – já que não possuem ouvido externo -, mas podem sentir muito bem a aproximação da presa pela vibração do solo;

🐍 Não possuem pálpebras, portanto nunca fecham os olhos. As cobras dormem de olhos abertos!

🐍 Serpentes sentem cheiros por meio da língua! O hábito de dardejar – colocar a língua para fora e movimentá-la – serve para que possam captar micropartículas de odor no ar. Ao colocar a língua para dentro novamente, elas a encostam no órgão de Jacobson – responsável pelo sentido olfativo desses répteis;

🐍 As narinas presentes nas cobras têm a função exclusiva de auxiliar na respiração;

🐍 Os animais trocam de pele  diversas vezes na vida.

 

COMO RECONHECER UMA ESPÉCIE PEÇONHENTA?

 

Algumas espécies de serpente são consideradas peçonhentas, ou seja, produzem uma substância tóxica chamada de peçonha Elas inoculam – “injetam” – essa substância em suas presas para abatê-las, ou em algum agressor para se defender (o que ocorre com humanos). 

 

Dentre as espécies peçonhentas presentes no Brasil, há um principal atributo físico em comum, que nos permite identificá-las e diferenciá-las das cobras não peçonhentas: a fosseta loreal – uma estrutura parecida com um buraquinho, localizada entre os olhos e as narinas da serpente. 

 

Cascavel (Crotalus durissus) || Foto: Geraldo Pereira

 

Com exceção das corais-verdadeiras (do gênero Micrurus) todas as demais espécies peçonhentas podem ser identificadas através da fosseta loreal. 

 

ACIDENTES COMO SERES HUMANOS – O QUE FAZER AO SER PICADO?

 

Ocasionalmente, acidentes entre pessoas e serpentes acontecem. Sim, chamamos de acidentes, pois, muitas das vezes, o ser humano não viu a serpente ou não teve a intenção de se aproximar. Por outro lado, a cobra não ataca porque é má, mas sim para se defender quando a pessoa se aproxima demais do animal, fazendo-o se sentir ameaçado.

 

O que fazer ao ser picado por uma serpente peçonhenta?

    • Lavar o local com água corrente e sabão (para evitar infecções)
    • Manter a calma
    • Levantar o membro picado
    • Hidratar-se
    • Manter-se ao máximo em repouso
    • Se possível, identificar a serpente

 

  • Ir para o hospital mais próximo o mais rápido possível

 

O que NÃO fazer?

  • Não fazer torniquete
  • Não passar café/pinga/folhas secas
  • Não tentar chupar o veneno
  • Não fazer cortes

 

POR QUE DEVEMOS PROTEGER AS SERPENTES?

 

A relevância ecológica das serpentes consiste, principalmente, no controle populacional de roedores, anfíbios e invertebrados. Pode-se dizer que a natureza, com sua dinâmica perfeita e inquestionável, atribuiu às cobras a importante missão de controlar os pequenos animais por meio da alimentação. Dessa forma, os répteis impedem que a altíssima taxa de reprodução dos mesmos transforme-os em praga, prejudicando o equilíbrio ecológico dos ecossistemas.

 

Cobra-cipó-verde (Chironius bicarinatus) || Foto: Antonio Carlos Fiorito Junior

 

Além disso, as serpentes também servem de alimentos para animais como aves, mamíferos e até mesmo outras cobras! E mais uma vez, percebemos a importância da cadeia alimentar e da conservação de todos os seres que a compõe. 

 

ESPÉCIES ENDÊMICAS BRASILEIRAS

 

Ao todo, estima-se que hajam cerca de 2.900 espécies de serpente no mundo. Somente no Brasil, já foram registradas pelo menos 370 espécies diferentes, que apresentam variados tamanhos, formas e cores! 

 

Algumas delas são endêmicas do Brasil, ou seja, podem ser encontradas apenas em nosso paraíso tropical. Dentre os exemplares tipicamente brasileiros, destacamos os seguintes: 

 

Jararaca-ilhoa 

Nome científico: Bothrops insularis

 

Jararaca-ilhoa (Bothrops insularis) || Foto: Rodrigo Gavira

 

Criticamente ameaçada de extinção (CR), de acordo com a IUCN, a jararaca-ilhoa pode ser avistada apenas na Ilha da Queimada Grande, localizada a cerca de 35 quilômetros do litoral de São Paulo. 

 

Jararaca-de-Alcatrazes

Nome científico: Bothrops alcatraz

 

Jararaca-de-alcatraz (Bothrops alcatraz) || Foto: Edelcio Muscat/Estadão

 

A jararaca-de-alcatrazes também encontra-se criticamente ameaçada de extinção (CR), segundo a IUCN. A espécie pode ser observada apenas na Ilha de Alcatrazes, situada no estado de São Paulo. 

Ambas as espécies citadas acima estão seriamente ameaçadas, principalmente devido ao tráfico ilegal, que retira espécimes da ilha. 

 

Jibóia do Ribeira

Nome científico: Corallus cropanii

 

Jibóia-do-ribeira (Corallus cropanii) || Foto: Lívia Corrêa/Instituto Butantã

 

A espécie ocorre apenas na região do Vale do Ribeira e, de acordo com a IUCN, seu status de conservação indica que está ameaçada de extinção (EN). Essa espécie era considerada extinta desde 1953, quando o último exemplar foi visto vivo. Em janeiro de 2017, graças a um trabalho de educação ambiental, um outro exemplar da jibóia mais rara do mundo foi encontrado vivo, reacendendo a esperança para a espécie.

 

Por fim, é importante ressaltar que peçonhentas ou não, endêmicas do Brasil ou não, todas as espécies de serpente precisam ser incluídas em nossos esforços de conservação. Você pode fazer sua parte registrando os indivíduos que encontrar pelo caminho e publicando no Biofaces! Nossa plataforma promove a ciência cidadã e auxilia na conservação da fauna selvagem ao redor do mundo. 

 

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