A fauna da Caatinga: Conheça a diversidade de espécies e onde avistá-las

A Caatinga, um bioma exclusivamente brasileiro, abriga uma diversidade de vida que surpreende e fascina. Ao contrário do que muitos pensam, esse bioma é um verdadeiro tesouro da biodiversidade, repleto de espécies únicas e paisagens de tirar o fôlego. No Dia Nacional da Caatinga (28/04),  te convidamos a conhecer mais sobre a fauna, as espécies endêmicas e suas adaptações únicas e te contamos os melhores locais para avistar e registrar sua beleza e diversidade em primeira mão. Leia até o final para conferir!

 

A Caatinga é o principal bioma de ocorrência do Tatu-bola (Tolypeutes tricinctus). Foto: Felipe Peters/Biofaces

A grande diversidade da fauna da Caatinga

A Caatinga é um bioma exclusivamente brasileiro, e estende-se por uma vasta área de aproximadamente 862.818 km², representando 10,1% do território nacional. Este bioma abrange os estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piaui, Sergipe e o norte de Minas Gerais. 

A Caatinga é lar para cerca de 27 milhões de pessoas, muitas das quais vivem em condições de vulnerabilidade e dependem diretamente dos recursos naturais do bioma para sua subsistência.

Sua biodiversidade desempenha um papel crucial no suporte a diversas atividades econômicas,como a agricultura, pecuária e indústria farmacêutica, cosmética, química e alimentícia. Além disso, a riqueza natural deste bioma oferece um potencial significativo para a conservação de serviços ambientais e para o desenvolvimento sustentável da região.

Apesar de ser o principal ecossistema da região Nordeste, a Caatinga permanece como o bioma menos explorado do Brasil, com estudos limitados sobre sua diversidade. No entanto, as pesquisas mais recentes revelam que a Caatinga é o bioma semiárido mais biodiverso do mundo, abrigando uma impressionante variedade de ambientes e espécies. 

De acordo com a Flora do Brasil (2021), existem 4.963 espécies de plantas catalogadas neste bioma, das quais 318 são endêmicas, ou seja, só ocorrem naquela região. Dessas, 827 têm seu estado de conservação conhecido. Alarmantemente, 30,1% dessas espécies estão listadas sob alguma categoria de ameaça de extinção.

E como é a fauna da Caatinga? No que diz respeito à fauna, a Caatinga abriga mais de 1.182 espécies, entre animais vertebrados e invertebrados. São 548 aves, 386 peixes, 196 répteis, 133 mamíferos, 98 anfíbios e uma enorme diversidade de invertebrados, com 276 formigas, 94 abelhas e 93 aranhas. Dos animais da caatinga, 327 espécies são exclusivas do bioma

 

A biodiversidade da Caatinga. Fonte: Associação Caatinga.

 

Em 2018, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade avaliou o estado de conservação destas e identificou que 125 delas (o equivalente à 10,57% do total) estão em risco de extinção, incluídas nas categorias da Lista Vermelha da IUCN: Extintas na Natureza (EW), Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) e Vulnerável (VU).

A Caatinga é um bioma de imensa importância ecológica, econômica e social para o Brasil. A conservação de sua biodiversidade única não é apenas crucial para a sustentabilidade ambiental, mas também para o bem-estar das milhões de pessoas que dependem de seus recursos. É mais que necessário que hajam esforços contínuos para proteger e conservar o ecossistema e a fauna da Caatinga.

Animais que você só encontra na Caatinga

Ao longo do tempo, a Caatinga vem sendo palco de dramáticas consequências das mudanças climáticas, alternando entre períodos de temperaturas extremamente altas e baixas em curtos espaços de tempo. Este cenário de intensa variabilidade climática serviu como um laboratório natural para um fascinante processo evolutivo, moldando uma fauna com características únicas, adaptadas para sobreviver em condições adversas.

A adaptação às rigorosas condições climáticas atuam como estratégia vital para a sobrevivência da fauna da Caatinga. Os animais desse bioma desenvolveram uma série de adaptações comportamentais e fisiológicas para enfrentar os desafios impostos pelo ambiente.

 

Alguns animais entram em um longo sono, quando as condições climáticas se tornam muito secas e quentes. Foto: Carlos Jared/BBC News Brasil.

 

Dentre essas estratégias, destacam-se a capacidade de consumir os escassos alimentos disponíveis durante os períodos de seca, realizar migrações temporárias em busca de áreas mais úmidas, acelerar o ciclo reprodutivo aproveitando o breve período de chuvas, e entrar em estado de dormência para conservar energia durante as estiagens prolongadas.

Essa intrincada relação entre o clima da Caatinga e a adaptação da fauna resultou em uma rica biodiversidade, com um significativo número de espécies endêmicas. De acordo com dados da World Wildlife Fund (WWF), a Caatinga abriga 327 espécies animais endêmicas. Impressionante, não é mesmo?

Listamos abaixo alguns animais da Caatinga e te contamos os melhores lugares para avistá-los e fotografá-los:

Tatu-bola 

O tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), uma espécie endêmica majoritariamente encontrada na Caatinga e em áreas limitadas do Cerrado. Com um comprimento total variando de 40 a 43 cm e pesando cerca de 1,8 kg, é o menor tatu do Brasil. Sua capacidade de se enrolar formando uma bola, graças às três cintas móveis em seu dorso, é uma estratégia de defesa contra predadores, embora alguns consigam perfurar sua carapaça. 

 

Foto: Felipe Peters/Biofaces.

 

É um animal de hábitos noturnos, e sua dieta consiste principalmente de cupins, pequenos invertebrados e frutos. Durante a época de reprodução, é comum uma fêmea ser acompanhada por mais de um macho. A gestação dura em média 120 dias, resultando geralmente em um único filhote por ninhada.

Estudos recentes revelaram que, ao contrário do que se pensava anteriormente, o tatu-bola é capaz de cavar seus próprios abrigos, uma atividade que parece estar mais relacionada à termorregulação corporal e cuidado parental do que à defesa. 

Representa um ícone na luta pela conservação da biodiversidade brasileira. Classificado na categoria “em perigo” na Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção e como “vulnerável” na Lista Vermelha da IUCN. Este pequeno mamífero tornou-se a espécie bandeira do projeto No Clima da Caatinga, simbolizando os esforços de conservação deste bioma único.

 

Foto: Emanuelle Paso/Biofaces.

 

Para os biofacers interessados em avistar e fotografar o adorável tatu-bola em seu habitat natural, o Parque Estadual do Cânion do Rio Poti, no Piauí, uma área de conservação de 24 mil hectares, situada ao longo do espetacular Cânion do Rio Poti, não só oferece um refúgio seguro para a espécie, mas também contribui significativamente para a conservação do bioma Caatinga. Outro lugar espetacular é o Parque Nacional do Boqueirão da Onça, na Bahia, uma das mais recentes unidades de conservação federais criadas para proteger a biodiversidade da Caatinga, inclui vastas áreas de habitats naturais essenciais para a sobrevivência do tatu-bola e de outras espécies endêmicas. 

Periquito-de-cara-suja

O Periquito-da-Cara-Suja (Pyrrhura griseipectus), também conhecido como tiriba-de-peito-cinza ou tiriba “cara-suja”, é uma espécie de ave psitaciforme pertencente à família Psittacidae, que se destaca por sua beleza e singularidade. 

 

Foto: Marco Catel/Biofaces.

 

Medindo cerca de 23 cm de comprimento e pesando aproximadamente 63 gramas, este periquito é um dos psitacídeos mais ameaçados de extinção no Brasil, com sua população selvagem enfrentando sérios riscos.

Se alimenta principalmente de sementes, frutos e flores. Habita florestas úmidas e regiões serranas, áreas ricas em biodiversidade, que fornecem os recursos necessários para sua nutrição e sobrevivência. Seu ciclo reprodutivo é sincronizado com o período de chuvas, aproveitando a abundância de alimentos. A fêmea coloca de cinco a oito ovos em ocos de árvores, muitas vezes utilizando cavidades feitas por pica-paus. Esses ninhos naturais são essenciais para a proteção dos ovos e dos filhotes contra predadores e adversidades do clima da Caatinga.

 

Foto: Marcelo Maux/Biofaces.

 

A espécie é endêmica do Brasil, com a maioria dos registros concentrados no estado do Ceará, em locais como a Serra de Baturité, Quixadá e Ibaretama. Registros recentes também identificaram uma população na Bahia, com características genéticas únicas, reforçando a importância da conservação desta espécie.

A Serra de Baturité, no Ceará, com certeza é um dos melhores locais para avistar essa ave. Esta região, além de ser um dos principais refúgios da espécie, oferece condições ideais para a observação de aves, graças à sua rica biodiversidade e paisagens deslumbrantes.

 

Foto: Claudia Brasileiro/Biofaces.

 

Infelizmente, o tráfico de animais silvestres representa a principal ameaça à esta espécie, com bandos inteiros sendo capturados durante a noite para venda em feiras clandestinas. Além disso, o desmatamento e a especulação imobiliária em sua região de distribuição têm reduzido rapidamente seu habitat natural. 

Desde 2018, o Periquito-da-Cara-Suja foi classificado pela IUCN Red List como “em perigo” de extinção. A conservação do Periquito-da-Cara-Suja é fundamental para a preservação da biodiversidade única da Caatinga e para a manutenção dos ecossistemas que sustentam essa e outras espécies endêmicas. 

Morcego-beija-flor

O Xeronycteris vieirai, um morcego exclusivo da Caatinga, representa uma das adaptações mais fascinantes à biodiversidade deste bioma único. Descoberto recentemente durante uma expedição que visava mapear as espécies endêmicas de morcegos do sertão, este morcego contribui significativamente para o entendimento da ecologia e da conservação da Caatinga. 

 

Foto: Juan Carlos Vargas Mena/National Geographic.

 

É um morcego de pequeno porte, com um tamanho que reflete sua adaptação a um ambiente árido e desafiador. Sua dieta é baseada principalmente em néctar, desempenhando um papel crucial na polinização de diversas plantas nativas da Caatinga. A reprodução segue padrões típicos de muitos morcegos, com gestações que resultam geralmente em um único filhote por vez. 

Endêmico da Caatinga, o Xeronycteris vieirai tem uma distribuição geográfica limitada, o que o torna particularmente vulnerável a mudanças em seu habitat. A Serra do Feiticeiro, no Rio Grande do Norte, é um dos locais onde essa espécie foi observada, tornando-se um ponto de interesse para pesquisadores e entusiastas de morcegos.

Já ressaltamos que avistá-lo não é uma tarefa fácil! Mas, para os amantes dos quirópteros, a Serra do Feiticeiro apresenta uma oportunidade única. Este local não apenas oferece a chance de observar a espécie em seu habitat natural, mas também de apreciar a beleza cênica da Caatinga. É importante, no entanto, abordar a observação de morcegos com respeito e cautela, evitando perturbar os animais ou seus habitats.

Soldadinho-do-araripe

O Soldadinho-do-Araripe (Antilophia bokermanni) é uma das aves mais emblemáticas e ao mesmo tempo uma das mais ameaçadas da Caatinga. Descoberto apenas no final do século XX, este pássaro rapidamente capturou a atenção de conservacionistas e amantes da natureza por sua beleza singular e seu status crítico de conservação.

 

Foto: Jonas Filho/Biofaces.

 

É facilmente reconhecível pelo contraste entre o branco de seu corpo e a vibrante plumagem vermelha na crista e na cauda, presente apenas nos machos. A espécie mede cerca de 15 cm de comprimento e se destaca no ambiente da Caatinga pela sua coloração. É uma ave diurna, alimentando-se principalmente de frutas e, em menor grau, de insetos.

A reprodução ocorre durante a estação chuvosa, quando a disponibilidade de alimentos é maior. Neste período, os machos realizam voos de exibição e cantam para atrair as fêmeas. Os ninhos são construídos em locais protegidos, geralmente próximos à água, o que é crucial para a sobrevivência dos filhotes.

 

Foto: Lindolfo Souto/Biofaces.

 

Endêmico da região do Chapadão do Araripe, no sul do Ceará, o Soldadinho-do-Araripe habita uma área muito restrita, o que contribui para sua vulnerabilidade. A espécie é encontrada principalmente nas nascentes e nos riachos da floresta úmida de galeria, um ecossistema que forma um oásis em meio ao árido bioma.

Muitos sonham em avistar o Soldadinho-do-Araripe, e a Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe é o destino ideal para isto. Especificamente, as nascentes e riachos ao redor da cidade de Crato, no Ceará, que oferecem as melhores oportunidades de avistamento. A presença da ave é mais provável nas primeiras horas da manhã, quando está mais ativa em busca de alimento.

Mocó

O Mocó (Kerodon rupestris) é um dos mamíferos mais característicos e adaptados da Caatinga, desempenhando um papel importante na biodiversidade e ecologia do. Endêmico do Nordeste brasileiro, chama a atenção por sua habilidade em escalar e viver entre as rochas. 

 

Foto: Claudio Dias Timm/Biofaces.

 

É um roedor de porte médio, podendo pesar até 1 kg e medir cerca de 40 cm de comprimento, incluindo a cauda. Sua pelagem é densa e varia de cor entre o cinza e o marrom, ajudando-o a se camuflar entre as rochas e a vegetação da Caatinga. É predominantemente noturno, alimentando-se de uma variedade de plantas, folhas, frutos e sementes.

A reprodução do Mocó pode ocorrer ao longo de todo o ano, mas também tende a ser mais frequente durante a estação chuvosa. As fêmeas podem ter várias ninhadas por ano, com um a três filhotes por gestação, o que contribui para a manutenção de suas populações.

 

Foto: Igor de Assis/Biofaces.

 

Inclusive, seu estado de conservação é classificado como “menos preocupante” pela Lista Vermelha de Espécies da IUCN, apesar de sofrer grande ameaça pela caça e perda de habitat. Nos últimos 10 anos sua população sofreu uma redução em 30%.

O Mocó é encontrado exclusivamente na Caatinga, adaptado às áreas rochosas que oferecem abrigo e oportunidades de alimentação. Sua distribuição geográfica abrange vários estados do Nordeste brasileiro, mas é mais comumente observado em áreas que mantêm características mais preservadas do bioma.

Para observar e fotografar o Mocó, as áreas de conservação da Caatinga, como o Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piaui, e o Parque Nacional do Catimbau, em Pernambuco, são locais ideais.

A Caatinga é realmente muito biodiversa e apresenta espécies únicas da fauna brasileira! A presença dessas e de outras espécies endêmicas sublinha a importância da Caatinga como um reservatório de biodiversidade e um campo de estudo vital para a compreensão das adaptações evolutivas de muitos animais. 

A Caatinga é um tesouro nacional que merece nossa atenção e esforços de conservação. Ao proteger a Caatinga, estamos salvaguardando um patrimônio brasileiro. 

Quando visitarem o bioma, aproveitem para fazer muitos registros da fauna e da flora da Caatinga. Com certeza esse bioma exclusivamente brasileiro promete grandes surpresas!

E, claro! Não esqueçam de compartilhar suas fotos aqui no Biofaces com a gente. 

 

Texto: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation.

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