Animais Fantásticos e Onde Habitam: Conheça mais sobre o boto cor de rosa e outras espécies de golfinhos de água doce
A Amazônia abriga uma das maiores biodiversidades do planeta Terra, e é claro que quando falamos de cetáceos, não poderia ser diferente. Hoje, no Dia do Boto, te contamos mais sobre esses animais e as espécies de golfinhos de água doce que podemos encontrar no Brasil. O boto-cor-de-rosa, ou boto-vermelho, é o mais famoso dentre as espécies brasileiras e suas curiosidades vão para além da lenda. Leia até o final e conheça mais sobre eles!
Afinal, quem são os botos?
Os botos são cetáceos odontocetos, ou seja, mamíferos aquáticos que possuem dentes. Essa dentição se apresenta de maneira uniforme e é utilizada para capturar principalmente peixes, porém, algumas espécies apresentam uma dieta mais variada, podendo também se alimentar de crustáceos e animais maiores.
No Brasil, já foram registradas mais de 40 espécies desse grupo e hoje, Dia do Boto, vamos te apresentar 5 (ou melhor… 4! Fica com a gente que você já vai entender) espécies de golfinhos fluviais.
Estão distribuídos pelas bacias fluviais sul-americanas e estamos aqui hoje, para te explicar a divisão “parental” desse grupo tão curioso. A história dos botos se mistura com as histórias dos rios amazônicos brasileiros e toda cultura ribeirinha dessas regiões. Valorizar a espécie também é valorizar os nossos biomas e o povo brasileiro.
Conheça as espécies de golfinhos de água doce
As espécies que carregam o nome boto cor de rosa se tornaram as mais conhecidas dentre os golfinhos de água doce. Além do nome boto cor de rosa, também são chamados de boto-vermelho e uiara. Popularmente, essas nomenclaturas são utilizadas para todos os integrantes do gênero Inia.
Surpreendentemente, possuem no total, 150 dentes, que são utilizados para capturar as mais variadas presas. Em sua dieta, já foram registradas 43 espécies de peixes! Mas não para por aí, o boto cor de rosa também pode se alimentar de crustáceos, principalmente na época de cheia, em que novos ambientes se tornam disponíveis. E pra você ter uma noção que esses dentes não estão ali somente para capturar peixes escorregadios, eles também podem predar quelônios, como por exemplo, o Pitiú (Podocnemis sextuberculata), mostrando a força de sua mordida.
O boto cor de rosa também nos fascina por seu tamanho, o comprimento médio dos adultos é de 2,2m. Em relação ao peso, o macho é um pouco maior, chegando até 210 kg, enquanto a fêmea, por volta de 160 kg
Atualmente, o grupo é dividido em três espécies e uma subespécie do gênero Inia. São classificado da seguinte forma: Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), boto-do-araguaia (Inia araguaiaensis), boto-boliviano (Inia boliviensis) e o boto-do-rio-orinoco (Inia geoffrensis humboldtiana).
O único representante do gênero no Brasil, o tucuxi (Sotalia fluviatilis), é umas das menores espécies de cetáceos do mundo, disputando o pódio com a toninha (Pontoporia blainvillei) e a vaquita-marinha (Phocoena sinus). Também conhecido como pirajaguara ou golfinho-cinza-do-rio, é bem menor que o boto cor de rosa, apresentando comprimento médio de 1,5 m e no máximo, 53 kg, nos machos adultos.
Em cada lado da maxila e da mandíbula, possui de 28 a 31 dentes. Os peixes capturados por essa espécie também são menores, os registros mostram presas de no máximo 37cm.
Boto ou golfinho?
Popularmente, entende-se que os golfinhos são os animais que vivem em água salgada e os botos, em água-doce, porém, cientificamente, não há nenhum tipo de diferenciação. Inclusive, as espécies podem carregar um dos dois nomes, variando de acordo com a região. O próprio tucuxi, por exemplo, é um delfinídeo, tendo como seus “parentes” mais próximos, os golfinhos marinhos.
Ou seja, geneticamente, até mesmo o boto cor de rosa está longe do tucuxi. E não se sinta mal, é difícil de entender mesmo, são anos e anos de evolução e convergência evolutiva. Observe o quadro abaixo para entender essa situação.
O tucuxi está na linhagem denominada de Delphinidae, grupo composto em sua maioria por golfinhos de água salgada. Enquanto isso, todas as espécies de boto cor de rosa fazem parte da linhagem Iniidae, exclusiva dos rios.
Também é possível observar a proporção corpórea e o crânio do boto cor de rosa (Inia geoffrensis) em comparação com os golfinhos fluviais do sul da Ásia (gênero Platanista).
Onde vivem os golfinhos fluviais?
Para entender a área de distribuição desses animais incríveis, vamos tomar como base, a bacia hidrográfica amazônica, a maior do mundo. No Brasil, abrange os estados do Acre, Amazonas, Roraima, Amapá, Pará, Rondônia e Mato Grosso. Na América do Sul, também está distribuída pela Guiana, Venezuela, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia.
Além dela, vale ressaltar a importância da Bacia do Orinoco, contemplando um dos maiores rios da Venezuela e Colômbia, o Rio Orinoco.
Nos mapas, podemos entender a distribuição do gênero Inia e da espécie Sotalia fluviatilis. É possível comparar e observar as áreas de sobreposição. Segundo Vera da Silva, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), os botos e o tucuxi possuem hábitos alimentares e uso de ambientes distintos.
“Existe uma sobreposição destes hábitos, mas de forma geral, os botos machos adultos tendem a ocupar mais os grandes rios e as suas fêmeas, canais menores, áreas de lagos e áreas mais protegidas. E o tucuxi, que é um golfinho bem menor do que o boto-vermelho, ocupa mais a calha dos rios e dos principais corpos d’água na região”, declara a pesquisadora.
Por que os botos estão em extinção?
De acordo com a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN), tanto o boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis), quanto o tucuxi (Sotalia fluviatilis), são considerados ameaçados de extinção.
Os botos ainda sofrem de maneira direta e indireta com as consequências da pesca descontrolada, como por exemplo, se enroscando nas redes e outros sistemas de captura, se deparando com a pesca com explosivos ou até mesmo por serem vistos como “competidores”, sofrendo retaliação.
Outros fatores como o crescimento de empreendimentos construídos em meios aquáticos, a poluição dos rios e uso de agrotóxicos afetam diretamente todo ciclo e qualidade de vida dos golfinhos fluviais brasileiros.
Nos últimos anos, alguns trabalhos estão sendo realizados buscando aliar o desenvolvimento da região e conservação dos animais aquáticos. Neste ensejo, o ecoturismo sustentável vem ganhando cada vez mais espaço, entendendo a importância das interações naturais da fauna e seu ambiente. Continue lendo para ver mais dicas sobre esse assunto.
Onde posso fotografar botos?
Sempre pensamos nos biofacers que buscam novas aventuras e adoram viajar. Conhecer novos lugares e fotografar espécies diferentes é sempre gratificante e nos enchem ainda mais de admiração pela biodiversidade. Porém, o turismo de observação de fauna, que é um tipo de turismo direcionado para os encontros com espécies silvestres, deve ser realizado com consciência e respeito.
Na hora de definir qual será o destino para ter esse encontro especial com os botos, busque locais e empresas que não exploram a natureza de forma predatória e sim, que utilizam o ecoturismo sustentável como um aliado na conservação. Observe se o local mantém uma interação que respeita o espaço e a natureza dos animais, não somente visam atender os desejos dos turistas.
No Brasil há algumas iniciativas que promovem expedições de fotografia de vida selvagem, proporcionando aos amantes da natureza uma experiência única e marcante. Temos um artigo de blog listando 5 expedições imperdíveis para fotografar a fauna. Clique aqui e confira!
As espécies por trás da lenda do boto
Aqui você já leu sobre a taxonomia, distribuição geográfica, dieta e outras características dos golfinhos fluviais brasileiros, porém, eles também são conhecidos por outra história, a lenda do boto.
As lendas folclóricas brasileiras fazem parte da nossa matriz cultural, mas também é interessante entender a realidade por trás dos personagens. A estória narra que durante à noite, o boto-cor-de-rosa saía das águas e se transformava em um homem belo e charmoso. Assumindo a forma humana, ele dançava e conquistava as mulheres da região. As donzelas, apaixonadas por ele, acabavam engravidando. Após toda a conquista, o boto voltava para as águas antes do amanhecer.
A desmistificação da lenda folclórica e valorização da cultura local ajudam a população a entender as espécies por trás da história. Hoje, os botos são considerados embaixadores dos rios da Amazônia e há ações para valorizar e combater as ameaças que os atingem.
Agora você já conhece um pouco mais sobre as espécies de botos, ou golfinhos fluviais, que vivem no Brasil. Então, não volte para a água, continue na sua forma humana, espalhe a informação e contribua com novos registros na nossa plataforma!
Redação: Kleyton Camargo – Greenbond Conservation
Revisão: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation