Biodiversidade marinha do Arquipélago de Alcatrazes
Todo mês, o Biofaces aborda um Parque Nacional do mundo, ambientes singulares, ricos em biodiversidade e logo, ótimos para fotografar a vida selvagem. Mas, desta vez, iremos falar de um Refúgio de Vida Silvestre Marinha, o Arquipélago de Alcatrazes.
O que um dia foi uma base para treinamento de tiro de canhões da marinha brasileira, hoje o Arquipélago de Alcatrazes é um refúgio da vida silvestre e abriga uma biodiversidade imensa, com cerca de 259 espécies de peixes, 100 espécies de aves, mais de 300 espécies de flora e, com diversos animais e plantas endêmicos das ilhas, ou seja, que só existem lá, assim, totaliza-se cerca de 1.300 espécies de fauna e flora. Incrível, não é?
Quer conhecer mais desse paraíso e como fotografar as espécies marinhas? Fica até o final que vamos te contar tudo.
O Arquipélago
O Arquipélago de Alcatrazes é um conjunto de 5 ilhas maiores, outras quatro ilhas menores, cinco lajes (formações de costões rochosos que ficam submersos) e dois parcéis, tendo cerca de 70.000 hectares.
A ilha principal é Alcatrazes e apresenta um pico, conhecido como Pico da Boa Vista, medindo 316 metros de altura. As outras ilhas maiores são conhecidas como: Saco do Funil, Ilha da Sapata, Ilha do Paredão, Ilha do Farol e Ilha do Sul.
O refúgio é uma Unidade de Conservação, juntamente com a Estação Ecológica Tupinambás e é administrada pelo ICMBio Alcatrazes.
Hoje, Alcatrazes é uma das maiores unidades de conservação marinha de proteção integral do Sul e Sudeste do país e apresenta como principal objetivo conservar diversas espécies únicas e também, ameaçadas ou ainda, diversas espécies migratórias que dependem da ilha.
Por mais de 30 anos que o Arquipélago não abria para visitantes, apenas recebia pesquisadores para estudar sua biodiversidade.
Em 2018, o turismo náutico e ecológico para mergulhadores e visitantes do mundo foi aprovado. Mas, as ilhas em si ainda permanecem sem contato de turistas, somente de pesquisadores e pessoas autorizadas pelo ICMBio. Mas mesmo assim, o local é realmente um paraíso.
Histórico
Pelo fato de ser mais distante da costa, o arquipélago foi utilizado como base militar, nas décadas de 1980 até 2013, onde utilizavam as ilhas como alvo para treinamento de tiro de canhões.
Mas a gente sabe, que nada de bom pode sair de uma base de treinamentos de guerra em uma ilha que apresenta uma biodiversidade única, não é?!
Assim, muitos pesquisadores começaram a estudar mais sobre os impactos na vida marinha e terrestre e, comprovadamente, mostraram os enormes consequências dos bombardeios no Saco do Funil, gerando crateras nas formações rochosas, expulsava/matava a fauna local e ainda, o risco de incêndios era enorme.
E realmente aconteceu, em 2004, ocorreu um grande incêndio devido a prática de tiros, onde se alastrou por mais de 20 hectares na ilha do Saco do Funil, onde existe uma espécie endêmica e ameaçada de rã.
Em 1990, houve a proposta para a criação de um Parque Nacional de Alcatrazes, mas nunca foi para frente até o incêndio, com todas as comprovações de impacto, a Marinha saiu da ilha somente em 2013.
E o Arquipélago não se tornou um Parque e sim um Refúgio de Vida Silvestre, em 2016, menos a Ilha da Sapata, onde ainda pode ocorrer alguns treinamentos pela marinha, porém isso ainda incomoda muito quem trabalha na conservação do Arquipélago.
Contexto Biológico
E se eu te falar que Alcatrazes era uma montanha em meio a Mata Atlântica, há 2,5 milhões de anos, você acreditaria? Nessa época, não era o oceano que cercava as Ilhas e sim, a floresta.
Isso é importante para compreendermos a biodiversidade local e cheia de espécies terrestres endêmicas, que só ocorrem ali, como por exemplo, a Jararaca-de-Alcatrazes (Bothrops alcatraz). Quando o nível do mar subiu, essas espécies ficaram isoladas, tendo que se adaptar às novas condições que se encontravam.
Biodiversidade
Mas bom, agora bora falar das espécies que nós, turistas, podemos avistar e fotografar? A biodiversidade é tanta que poderíamos ficar horas escrevendo.
Lá habitam aves residentes e migratórias, além de ser o paraíso das fragatas (Fregata magnificens), onde está o maior ninhal dessas aves no Atlântico Sul, com cerca de 6 mil indivíduos.
O refúgio é considerado o maior sítio reprodutivo das aves marinhas que habitam o Brasil, abrigando populações com cerca de 10 mil aves. Além das fragatas, no arquipélago também existem diversas espécies ameaçadas, como o trinta-réis-de-bico-vermelho, além do pinguim de magalhães – espécie migratória – e diversas outras.
A segunda maior colônia de aves do arquipélago são de atobás (Sula leucogaster), com, mais ou menos, 3 mil indivíduos, eles nidificam bastante na Ilha da Sapata, onde, ainda hoje, há bombardeios da Marinha (por não ter sido considerada parte do Refúgio), o que preocupa bastante seu desenvolvimento.
A biodiversidade marinha é riquíssima, principalmente pelo fato da pesca ser proibida, lá é um enorme refúgio para diversos peixes e mamíferos aquáticos. Além disso, Alcatrazes se encontra em faixas de transição entre águas mais quentes e águas mais frias, o que auxilia e muito, no tamanho da riqueza aquática.
A variedade de peixes existentes lá é altíssima, sendo maior do que em Fernando de Noronha. E abriga grandes recifes de corais que acolhem milhares de peixes coloridos, raias, até mesmo a manta, tubarões que vão para lá se alimentar, golfinhos, a baleia de Bryde – espécie residente de Ilhabela – tartarugas e na época certa, as baleias jubartes passam muito por lá, entre maio e setembro, mas também diversas outras que estão de passagem.
Se der sorte, há grandes chances de mergulhar com cardumes enormes de peixes das mais variadas espécies.
E ainda, observar a diversidade das espécies de corais, sendo o coral-estrela, um dos mais encontrados por lá, assim como mais de 400 espécies de animais invertebrados, como os nudibrânquios – conhecidos como lesmas marinhas.
O arquipélago abriga isso e muitos mais, sendo um dos lugares mais lindos da costa de São Paulo.
Como chegar?
Fica a 35 km da costa, muito próximo a Ilhabela e São Sebastião no Litoral Norte de São Paulo.
Para realizar um passeio na ilha, que ocorre todos os dias, das 8h até as 16h, é necessário agendar com operadoras de mergulho ou empresas de turismo autorizadas que fazem o trabalho de ecoturismo junto aos guias do ICMBio.
Há um limite de pessoas, por isso, nem sempre é fácil de agendar. Lá é possível realizar birdwatching embarcado, assim como, mergulho, que pode ser feito com cilindro, ou também livre (snorkeling), ambos mostram a riqueza local.
Se programe para conhecer, pois lá, é realmente um lugar de encantar e de conhecer o rico ecossistema marinho do local.
Leve sua câmera e equipamentos subaquáticos, para os mais diferentes registros e compartilhe com a gente.
Texto por: Giovanna Leite Batistão
Revisado por: Jéssica Amaral Lara