Bons lugares para fotografar vida selvagem: Parque Nacional da Serra da Capivara

Não é só de boas câmeras e dicas de fotos que vive o fotógrafo de vida selvagem. Ele também precisa estar no lugar certo, na hora certa. Pensando nisso, nós listamos os maiores e melhores Parques Nacionais para você se conectar à natureza, encontrar os bichos em vida livre e fazer incríveis registros!

Uma vez por mês abordamos um parque diferente, trazendo opções de todos os cantos do Brasil, para você aproveitar ao máximo a rica biodiversidade brasileira! De acordo com a região onde estão situados, os parques podem te surpreender com animais, vegetações, cores, cheiros e paisagens distintas, o que faz de cada espaço um lugar único.

Com paisagens deslumbrantes e uma riqueza em natureza e história, o Parque Nacional da Serra da Capivara é um verdadeiro museu a céu aberto.

 

Pedra Furada. Foto: ICMBio

 

Parque Nacional da Serra da Capivara

Criado em 1979, o Parque Nacional da Serra da Capivara conta com uma área de 130 mil hectares, quase o tamanho da cidade de São Paulo. Situado no típico semiárido nordestino, o Parna abrange quatro municípios do estado do Piauí, sendo a base para visitas localizada em São Raimundo Nonato. Com paisagens que combinam a exuberância da caatinga com gigantescos cânions, boqueirões e serras, o Parque conta com uma enorme coleção de pinturas rupestres e pré-históricas. Tudo isso sustentado por uma das melhores estruturas de visitação do país, com guias obrigatórios que te auxiliam a desfrutar das visitas ao máximo.

 

O mar que virou sertão

O Parque Nacional da Serra da Capivara já foi palco de importantes descobertas sobre a história natural. Dezenas de fósseis marinhos já foram encontrados na área, remetendo à época em que ainda era coberta por água. Tudo indica que, há mais de 200 milhões de anos, movimentos tectônicos levantaram o fundo do mar nesse território, dando origem às suas famosas formações geográficas.

Mas não pára por aí. Enquanto o planeta passava pela Era do Gelo, esse espaço com localização privilegiada, próxima à linha do Equador, tornou-se uma espécie de oásis, não atingido pelo congelamento. Abrigo à megafauna brasileira, fósseis como a preguiça-gigante já foram encontrados na região. Todas estas descobertas incentivaram a construção do Museu da Natureza, localizado dentro do Parna, que aborda a história da vida de forma interativa.

Mas não só a megafauna deixou sua marca na região. O Parna conta com mais de mil sítios arqueológicos, a maioria com famosas pinturas rupestres.

 

O homem americano

As pinturas rupestres do Parna são uma das grandes atrações. Para entender a riqueza concentrada no local, precisamos considerar um desenho isolado como uma figura. Nos famosos sítios arqueológicos europeus, é comum encontrar entre 10 e 12 figuras. Só na Toca do Boqueirão da Pedra Furada, um dos pontos turísticos do Parque, é possível encontrar cerca de 1.200.

E não é só em quantidade que a coleção conservada no Parna se destaca. As pinturas não apenas retratam caças, mas também representam cenas cotidianas da época. Há cenas de pessoas se beijando, fazendo sexo, mulheres dando à luz…. São ou não são atrações únicas?

 

Pintura rupestre retratando um beijo. Foto: Marcos Oliveira – Super Interessante

 

Além da arte, a região também conservou seus criadores. O segundo crânio mais antigo das Américas foi encontrado ali e pertenceu a Zuzu, que viveu há cerca de 9.900 anos atrás. Apesar da idade avançada do crânio, existem debates sobre os humanos terem chegado ali muito antes.

Atualmente, a hipótese mais aceita é a de que o povoamento do continente americano ocorreu há cerca de 15 mil anos, quando os humanos migraram da Ásia através do Estreito de Bering. Uma outra hipótese menos aceita é a de que, quando o nível do mar era mais baixo, havia um maior número de ilhas. E foi através delas, passando de uma a outra, que os povoadores atravessaram o oceano e chegaram muito antes às Américas.

A arqueóloga Niède Guidon, fundadora do Parna, encontrou em suas expedições instrumentos e indícios da vida humana pré-histórica. O mais antigo dos tais instrumentos data de cerca de 100 mil anos atrás. Já dá pra notar que vem hipótese controversa por aí, né?

Contrariando o que é mais aceito, Niède acredita que o Homo sapiens veio direto do berço da humanidade, a África, para as Américas, há mais de 100 mil anos. Não pelo Estreito de Bering há 15 mil anos, mas diretamente pelo Oceano Atlântico. É uma grande diferença, mas Niède já foi capaz de criar incertezas no que antes era consolidado no meio científico.

Essas descobertas deram origem a outro museu do Parna, o Museu do Homem Americano, que traz um pouco sobre o patrimônio conservado no Parque, além de apresentar um pouco sobre a evolução dos hominídeos e das hipóteses de povoamento das Américas.

 

Fauna e flora 

Em território típico da caatinga, o Parna conta com quase 40% da área protegida deste bioma, sendo 70% das espécies vegetais endêmicas da região. O clima semiárido altera completamente o visual da região durante o ano. Entre abril e outubro, temos a estação seca, quando os troncos secos tomam conta da paisagem e o clima quente prevalece.

Entre março e novembro, chega a estação chuvosa e, com ela, o verde toma conta do Parque. É nesta época que os reservatórios de água se enchem e a oferta de alimento aumenta e se torna mais fácil avistar as incríveis espécies de animais que habitam a região.

Uma diversidade grande de animais foi identificada no Parna, sendo 58 espécies de mamíferos, 208 aves, 57 répteis e 17 de anfíbios. Entre os destaques estão o gato-do-mato, gato-maracajá, onça-pintada, jacucaca, onça-parda, tatu-bola e o mocó, um roedor endêmico da caatinga. Além disso, o Parque também é lar da única população conhecida de macacos-prego que costuma usar ferramentas feitas de pedra e de madeira para, além de obter alimento, se comunicar e, até mesmo, como instrumento de ameaça.

 

Macaco-prego. Foto: Cássia Bars Hering – Biofaces

 

Como chegar e valores

Localizado há cerca de 530 km da capital do estado, é um bom caminho até chegar no Parna. Para quem viaja de carro, partindo pela BR-316, é possível fazer o trajeto transitando pelas vias PI-224, PI-236, BR-230, PI-143 e, por fim, BR-020.

Para os viajantes de ônibus, saindo de Teresina (PI) é ofertado ônibus diário, três vezes ao dia, a partir do Terminal Rodoviário de Teresina (Terminal Rodoviário Governador Lucídio Portella, Rodovia Gov. Lucídio Portella, s/nº, Bairro Redenção – (86) 3229-9047 / 3229-9048). E saindo de Petrolina (PE) há também um ônibus diário, uma vez ao dia, a partir do Terminal Rodoviário de Petrolina (Terminal Rodoviário Governador Nilo Coelho, Avenida Nilo Coelho, s/nº, Bairro Gercino Coelho – (87) 3862-3200).

O município de São Raimundo Nonato possui mais estrutura para turismo, contando com pousadas e restaurantes, mas o município de Coronel José Dias é mais próximo da entrada do Parque, com opções mais limitadas de hospedagem.

Segundo o ICMBio, o Parna está aberto para visitação desde que limitada a um grupo de 8 pessoas, preferencialmente viajando juntos. Uma vez no Parque, são oferecidos passeios guiados, além da possibilidade de realizar trilhas, circuitos e atividades de ecoturismo. Os ingressos para os museus do Parna variam entre 10 e 30 reais. Porém, devido à pandemia, eles estão fechados à visitação.

 

E, como diz Maria Bethânia em uma das exposições do Museu da Natureza, “A natureza está em trânsito. A estabilidade é uma ilusão. A vida insiste, resiste.”. Sendo assim, aproveite a oportunidade de conhecer a vida como ela é atualmente, nesse palco de mudanças que é o Parque Nacional da Serra da Capivara. E, quando fizer isso, não se esqueça de registrar tudo e compartilhar aqui no Biofaces! 

 

Texto por Lidiane Nishimoto

Revisado por Fernanda Sá

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