Felino raro é registrado no Biofaces e vira notícia
Um registro aparentemente comum publicado no Biofaces recentemente, foi responsável pela identificação de um felino ameaçado mundialmente de extinção, no Mato Grosso do Sul. O caso virou notícia em diversos portais, incluindo no Terra da Gente, do G1.
O indivíduo em questão é um gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus), espécie rara e o único carnívoro do Brasil que está na categoria ‘Em Perigo’ da lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção. Com esse registro, o parque Natural Municipal Templo dos Pilares, em Alcinópolis (MS) acrescentou mais uma espécie em sua lista de mamíferos.
A imagem foi capturada por armadilhas fotográficas instaladas pela pesquisadora Bruna Barbosa, bióloga e Secretária Municipal de Desenvolvimento, Agricultura, Pecuária, Turismo e Meio Ambiente de Alcinópolis-MS. O registro foi feito no dia 12 de julho e, a semelhança do indivíduo com outros felinos é tamanha, que levou inicialmente a bióloga a acreditar que se tratava de uma jaguatirica (Leopardus pardalis).
Identificando o felino
Após a publicação da foto no nosso site, Letícia de Moura, nossa bióloga e supervisora de espécies, desconfiou de que o espécime poderia se tratar de um gato-do-mato-pequeno e não de uma jaguatirica: “Batendo o olho vi que não era uma jaguatirica, pois apresentava rabo mais grosso e pintas menores e menos abertas que nas jaguatiricas, cuja principal característica na pelagem são as ‘listras’”. Para confirmar nossas suspeitas, pedimos ajuda ao também biólogo Tadeu Gomes de Oliveira, pesquisador da Universidade Estadual do Maranhão. Especialista em felinos, Tadeu Gomes é um grande parceiro do Biofaces e prontamente se disponibilizou a ajudar-nos, confirmando que se tratava de um Leopardus tigrinus. Essa mobilização toda se deu pelo fato de que nunca antes havia sido registrado a espécie por camera trap no Mato Grosso do Sul.
Tadeu apontou a ameaça da espécie também a nível mundial e comentou sobre a relevância desse encontro “A nível mundial ele também é considerado ameaçado, na categoria Vulnerável. Vale ressaltar que o L. tigrinus e sua espécie ‘irmã’, Leopardus guttulus são os únicos dentre todos os felinos do Brasil que estão ameaçados globalmente, de acordo com a IUCN… Muito mais importante do que o registro é o fato do Brasil deter a área de conservação considerada a mais importante, em nível mundial, para a espécie”.
O ICMBIO estima que nos próximos 15 anos, ocorrerá um declínio de cerca de 10% da população existente no Brasil devido a degradação do habitat pela expansão agrícola. Registros como esse são fundamentais para elaboração de medidas de proteção para a espécie.
Esse encontro inusitado e a identificação da espécie após a publicação no Biofaces, ressalta a importância do compartilhamento de informações através de plataformas colaborativas. A ciência cidadã, não somente contribui para a o desenvolvimento de pesquisas e para a conservação, como também incentiva as pessoas a conhecerem e se interessarem pela biodiversidade que existe em nosso planeta. Através do nosso site é possível compartilhar registros de fotos, vídeos, sons, trabalhos em pdf, desenhos científicos, evidências e listas de avistamentos de animais de qualquer lugar do mundo, integrando pesquisadores e leigos na arte da observação de vida animal selvagem.
O fundador do Biofaces, Leonardo Avelino Duarte, comentou sobre o ocorrido:
¨Particularmente me sinto muito feliz, porque percebo que aos poucos estamos integrando os amantes da natureza e gerando mais informação a respeito de animais raríssimos, que devem ser conhecidos para serem protegidos.¨
Leopardus tigrinus X Leopardus guttulus
Até 2013, acreditava-se que L. tigrinus e L. guttulus eram uma única espécie, denominada Leopardus tigrinus. Somente após este ano, passaram a ser consideradas espécies distintas. Leopardus tigrinus, que ocorreria no norte e nordeste do Brasil, e também nas Guianas e Venezuela, e Leopardus guttulus, que ocorreria nas regiões sul, sudeste e centro-oeste do Brasil, além do Paraguai e nordeste da Argentina.
A publicação da fotografia no Bioface é o primeiro registro de L. tigrinus no estado do Mato Grosso do Sul.
Apesar de serem facilmente confundidos, no L. tigrinus ¨as rosetas – popularmente chamadas de pintas; tendem a ser pequenas, na maioria das vezes abertas e adensadas, e a coloração de fundo amarelada. As patas são proporcionais ao corpo e a cauda é longa”, afirma Tadeu Gomes.