Animais fantásticos e onde habitam: as corujas mais raras do mundo e onde fotografá-las

Todo mês um post novo trazendo os melhores lugares para observar os animais fantásticos que habitam o Brasil e o mundo. As escolhidas desse mês são as maravilhosas corujas, mas não qualquer uma, e sim, as corujas mais raras do mundo e quais os melhores locais para fotografá-las. Este blog será uma homenagem, já que dia 04/08 comemora-se o Dia de Conscientização sobre as Corujas. 

São aves que englobam duas famílias, Tytonidae e Strigidae. Uma grande característica desse grupo é que são predadores vorazes, para isso possuem adaptações para auxiliá-las nas caçadas, como, por exemplo, suas penas macias e leves, que quase não fazem barulho durante seu voo, garantindo o silêncio durante a caça, incrível não é? 

Fique até o final para conhecer um pouco mais das corujas mais raras do mundo.

 

Coruja-vermelha-de-Madagascar (Tyto soumagnei)

Características

As penas desta ave, possuem uma coloração mais alaranjada – por isso o nome – além de apresentar algumas manchas pretas espalhadas pelo corpo. Seu tamanho é de, aproximadamente, 30cm e por conta disso, é classificada como uma coruja de médio porte. 

 

Coruja-Vermelha-de-Madagascar adulta (T. soumagnei) / Foto: Alan Van Norman

 

Distribuição e Habitat

Esta coruja existe somente nas florestas tropicais de Madagascar, mais especificamente, na região oriental da ilha, mas já existem alguns poucos registros da ave em outras localidades do país.

 

Distribuição da T. soumagnei / Foto: IUCN (International Union for Conservation of Nature, 2022).

A espécie vive nas florestas densas, verdes e úmidas a 2.000m do nível do mar, mas também já foi registrada em florestas mais secas.

Existem cerca de 2.500 a 9.999 indivíduos adultos nas florestas primárias de Madagascar, que possui cerca de 40.000 km2.

Até 1990, não se tinha registro algum na espécie em florestas perturbadas pelos seres humanos, mas em 1997 houve alguns novos registros mostrando a coruja em florestas secundárias/perturbadas. 

Contudo, a espécie se encontra como Vulnerável, segundo a IUCN, por conta do desmatamento das matas primárias da ilha.

 

Comportamento e alimentação

É uma animal que possui hábitos noturnos, caçando neste período, principalmente em florestas mais fechadas, com hábitos arborícolas, pousando em árvores na borda de florestas. 

Sua alimentação se baseia em pequenos mamíferos nativos de Madagascar, sendo 50% de sua dieta, mas também comem insetos, pequenos anuros e répteis, como sapos e lagartixas.

 

Registro da T. soumagnei dormindo em árvore, é interessante que ela utiliza das folhas para se proteger da chuva / Foto: Mikael Bauer

 

Há ainda, muitas descobertas a se fazer sobre o comportamento e distribuição da espécie, mas é um animal encantador, não é?

 

Melhor local para fotografá-la

Ainda é um animal que possui poucos registros, por ser mais raro de avistar, além de ser muito confundido com a famosa Coruja-das-torres (Tyto furcata). Mas existem locais onde se pode encontrá-la, como na região norte de Amber Mountain e na região centro-leste do Parque Nacional de Mantadia, além disso, há registro da espécie em Mahajanga, na cidade de Bemanevika, noroeste de Madagascar. 

 

Coruja-águia de Shelley (Bubo shelleyi)

Características

A coruja-águia de Shelley possui coloração preta marcante ao redor dos olhos e um bico mais amarelado, mas o que também chama muito a atenção é o seu enorme tamanho, possuindo de 53 a 61 centímetros. Mesmo com sua grandeza, esta espécie consegue se camuflar muito bem nas árvores, por conta de sua coloração mais amarronzada. 

 

Registro recente e único da Coruja-águia de Shelley (B. shelleyi) em Atewa / Foto: Dr. Robert Williams

 

Acredite se quiser, esta espécie não era vista há 150 anos, seu último registro documentado, em vida livre, havia sido em 1870 e sua última fotografia foi realizada em 1975 em um zoológico na Bélgica. 

Distribuição e Habitat

A ave habita as florestas tropicais africanas e foi avistada, em 2021, por um grupo de cientistas em Atewa, uma floresta em Gana, na África Ocidental.

Existem cerca de 1.500 a 7.000 indivíduos adultos.

A espécie é classificada como Vulnerável pela IUCN, por conta da destruição das florestas para extração ilegal de madeira e agricultura.

 

Distribuição da Coruja-águia de Shelley / Foto: IUCN (International Union for Conservation of Nature, 2018).

 

Comportamento e alimentação

Não se conhece muito do seu comportamento, já que são extremamente raras,  por isso é uma das espécies de coruja com menor número de estudos e conhecimento da África, além disso, há raríssimos registros de sua vocalização documentados, como este registro em 2018. 

Até em sua dieta há muitas lacunas, mas já foi avistada se alimentando de um esquilo voador. E, por conta de seu tamanho, acredita-se que a coruja se alimenta de animais de médio porte.

 

Melhor local para fotografá-la

Por possuir uma avistagem muito rara, fotografá-la deve ser ainda mais difícil, porém ainda há chances de se aventurar na floresta Atewa, em Gana, acompanhado de um guia local de vida selvagem, ou ainda, visitar a Bacia do Congo e Serra Leoa à procura desta raríssima espécie, quem sabe você não é um sortudo e ajude em mais registros dessa espécie, não é?!

 

Coruja Rajah Scops de Bornéu (Otus brookii brookii)

Características

É, na verdade, uma subespécie, conhecida como coruja Rajah Scops de Bornéu (Otus brookii brookii) e é considerada de pequeno porte, pesando aproximadamente 100g, a coloração de seus olhos é um chamativo laranja, sendo bastante característico do animal. 

 

Registro fotográfico recente de Otus brookii brookii na Ilha de Bornéu / Foto: Andy Boyce

 

Esta ave também não era avistada desde 1892, ou seja, 125 anos sem nenhum registro da espécie. Uma loucura pensar que ainda há tanto a se descobrir no planeta, né? 

A coruja foi avistada em 2016, por pesquisadores que estavam na Malásia estudando sobre a evolução das aves. 

Distribuição e Habitat

A única coisa que se sabe, é que ela habita as florestas montanhosas no Monte Kinabalu na Ilha de Bornéu, na Malásia, mais especificamente, no sudeste da Ásia. Ainda se analisa se ela somente reside neste local.

 

Ilha de Bornéu, Malásia / Foto: Google Maps

 

A subespécie foi encontrada a 1.650m de altitude nesta floresta, o ponto mais alto da Ilha. 

Por ser uma subespécie que vive nestas florestas, se pode alegar o declínio de sua população, por conta do desmatamento e exploração de óleo de palma na região.

Comportamento e alimentação

Não se tem conhecimento sobre seu comportamento vocal, nem sua reprodução e biologia. Mas muito provavelmente apresenta hábitos noturnos e pelo tamanho, pode-se deduzir que se alimenta de pequenos mamíferos, répteis, insetos, anfíbios, entre outros.

Melhor local para fotografá-la

Mesmo sendo rara, há uma chance de visitar as florestas montanhosas, no Monte Kinabalu, na Ilha de Bornéu, para uma tentativa de avistamento. 

 

Coruja-preta (Strix huhula)

Características

A coruja-preta (Strix huhula) possui a coloração – como o próprio nome já diz – preta, com leves tons de marrom em seu dorso, apresenta também algumas manchas brancas em seu corpo, inclusive em sua cauda, que têm de 4 a 5 faixas brancas, com o bico amarelo ou laranja. Seu tamanho varia de 30 a 36 cm de comprimento, com um peso médio de 397g.

 

Coruja-preta (S. huhula) em Aliança, no Pantanal do Mato Grosso do Sul / Foto: Leonardo Avelino Duarte – Biofaces

 

Distribuição e Habitat

Possui ampla distribuição, ocorrendo do norte da Argentina até o sul da Venezuela, mas também ocorre em grande parte da extensão do Brasil. 

Costuma residir em florestas de baixas altitudes, mata de várzea e bordas de matas. Mas já foi documentada em locais com interferência humana, como cafezais e parques.

Seus registros são extremamente pontuais e raros. Apesar da espécie possuir grande distribuição, não se tem uma estimativa dos indivíduos existentes, porém acredita-se ter uma baixa densidade populacional. 

 

Distribuição da Coruja-preta (S. huhula) / Foto: IUCN (International Union for Conservation of Nature, 2016).

 

Comportamento e alimentação

Ainda se conhece pouco da espécie, mas se sabe que é exclusivamente noturna, porém sua vocalização já foi notada antes do anoitecer e durante o dia, costuma descansar em florestas com folhas mais densas para sua proteção.

É uma ave carnívora, se alimenta de insetos, como baratas, besouros, mariposas e até pequenos vertebrados – porém em menor quantidade – como por exemplo, roedores, répteis e algumas aves.

 

Melhor local para fotografá-la

Assim como as outras, é bastante rara sua avistagem, porém já foi registrada por alguns dos nossos biofacers, como em Aliança, no Pantanal (MS), em Chapadão do Céu (GO) e em Brasília. 

 

Coruja-preta (S. huhula) em frente a Lua / Foto: Jéssica Menq – Biofaces

 

Caburé-acanelado (Aegolius harrisii)

Características

Seu aspecto é extremamente característico, suas penas do ventre e do corpo são amarelas, assim como seu rosto. Já suas asas possuem uma coloração voltada para o castanho, com algumas manchas brancas, seu bico é um cinza-azulado e os olhos de indivíduos adultos têm uma cor amarela. Na parte de trás de sua cabeça, apresenta duas listras pretas. É um animal de pequeno porte, medindo cerca de 20 cm, chegando a pesar entre 100 e 150 g.  

 

Caburé-acanelado (A. harrisii) / Foto: Cal Martins

 

Distribuição e Habitat

A coruja possui uma ampla distribuição, porém de forma pontual pela América do Sul, ocorrendo na Venezuela, Andes e norte da Argentina. Residem, em maior quantidade, no centro-oeste, sul e sudeste brasileiro, existindo também uma população isolada no nordeste.

 

Distribuição da Caburé-acanelado (A. harrisii) / Foto: IUCN (International Union for Conservation of Nature, 2016).

 

No sul e sudeste do Brasil, prefere as florestas de araucária, juntamente com as clareiras. 

Além disso, habita florestas densas ou abertas, cerrados, bordas de mata e pode ser encontrada a altas ou baixas altitudes. 

Assim como a coruja-preta, não há quantificado o número de indivíduos. Pouco se conhece da espécie, mas se acredita ser uma ave bem mais discreta do que realmente rara.

 

Comportamento e alimentação

Ainda não se conhece muito sobre seu comportamento, mas possui hábitos noturnos, e é ativo durante a época reprodutiva, tendo vários registros do macho vocalizando antes do entardecer. 

Sua alimentação é composta por pequenos mamíferos, como marsupiais, roedores, mas também, em sua dieta há presença de insetos e pequenas aves.

 

Caburé-acanelado (A. harrisii) após pegar sua presa, uma cuíca (Marmosa murina) / Foto: Kennedy Borges-Road – Biofaces

 

Melhor local para fotografá-la

É uma espécie discreta, mas não impossível de avistar. Há alguns registros feitos pelos nossos biofacers, no Ceará. Além disso, já foi fotografada em Avaré e Campos de Jordão, no estado de São Paulo. Assim como, já foi vista em outros biomas, como Cerrado e Pampa.

 

Corujas-guincho (Megascops sp.)

Características

E por fim, duas espécies recém descritas (2021) no Brasil, uma endêmica da Amazônia e outra da Mata Atlântica, são elas, respectivamente, a corujinha-do-Xingu (Megascops stangiae) e a corujinha-do-Alagoas (Megascops alagoensi)

As duas espécies possuem cerca de 25 cm, a coloração de suas penas vão do castanho até um tom mais vermelho.

 

Corujinha-do-Xingu (Megascops stangiae) / Foto: Kleiton Silva

 

Corujinha-do-Alagoas (Megascops alagoensi) / Foto: Gustavo Malacco

 

Distribuição e Habitat

Ambas as espécies residem em fragmentos de florestas remanescentes de suas regiões.

A corujinha-do-Xingu habita o Belém, entre os rios Tapajós e Tocantins, no Xingu e é endêmica da Amazônia. Porém, já se encontra em risco de extinção devido a alta taxa de desmatamento da região, mas se encontra mais protegida por conta das terras indígenas. 

 

Distribuição da Corujinha-do-Xingu (Megascops stangiae) e da Corujinha-do-Alagoas (Megascops alagoensi) / Foto: Mapa modificado de Willian Menq

 

Já a corujinha-do-alagoas habita somente as regiões de Mata Atlântica, no Centro de Endemismo de Pernambuco, nos estados de Alagoas e Pernambuco, também se encontra ameaçada pela degradação de seu habitat. 

A IUCN ainda não documentou as duas espécies, mas os pesquisadores estão realizando diversos estudos para compreender melhor a espécie e sua distribuição.

 

Comportamento e alimentação

Não se sabe muito sobre seu comportamento, sabe-se que possuem hábitos florestais e arborícolas. 

 

Melhor local para fotografá-la

As duas espécies brasileiras, corujinhas-do-xingu e corujinhas-do-alagoas, podem ser melhor fotografadas na região do Xingu e na Estação Ecológica de Murici, no estado de Alagoas.

 

Texto por: Giovanna Leite
Revisado por: Gustavo Figueiroa

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