Endêmicos e ameaçados: Animais da Mata Atlântica que você precisa conhecer!
Você já parou para pensar que alguns animais e até os biomas que existem hoje podem não estar mais entre nós daqui há algum tempo? A Mata Atlântica, assim como a vida selvagem que ali vive, sofrem pressões antrópicas há anos.
Alguns animais da Mata Atlântica tentam resistir até o último suspiro, mas será que eles vão persistir? Continue com a gente nesse blog e descubra seis espécies exclusivas do bioma.
Dia Nacional da Mata Atlântica
Em 27 de maio de 1560, através da Carta de São Vicente, o Padre Anchieta, admirado pelas florestas tropicais das Américas, descreveu pela primeira vez a grande biodiversidade que ali encontrava.
Além de ser um dos biomas mais biodiversos, também é um dos mais ameaçados do mundo, atualmente, acredita-se que restam apenas cerca de 12% da cobertura vegetal original, que antes se estendia por 1,3 milhão de km² do território brasileiro.
Entretanto, não imagine que trata-se de uma extensão de florestas contínuas e padronizadas. Ao observar de perto, você descobre um verdadeiro mosaico de fitofisionomias, ou seja, diferentes tipos de formações vegetais, que variam conforme a altitude, o clima, a umidade, o tipo de solo e até mesmo, a proximidade com a costa.
Essas fitofisionomias não só enriquecem a paisagem, mas também desempenham papéis essenciais na proteção de recursos hídricos, na regulação do clima e na manutenção da biodiversidade, principalmente quando nos referimos àquelas endêmicas.
Os animais da Mata Atlântica
A grande variedade de nichos ecológicos e habitats deste bioma oferece um lar ideal para diversas espécies da fauna brasileira. As particularidades ecológicas resultam em um alto grau de endemismo, o que significa que muitos animais são exclusivos da Mata Atlântica ou, ao menos, de determinadas regiões deste bioma.
No entanto, animais endêmicos da Mata Atlântica são altamente suscetíveis às pressões humanas e às alterações em seus habitats naturais. Algumas espécies de anuros, por exemplo, são extremamente sensíveis a mudanças na temperatura e no pH da água, frequentemente afetadas pela expansão urbana e pela modificação dos cursos d’água.
Pesquisas recentes indicam que o alerta sobre os animais da Mata Atlântica tende a se intensificar. Algumas espécies já foram oficialmente declaradas extintas no bioma, sendo algumas delas endêmicas.
Confira abaixo algumas espécies endêmicas da Mata Atlântica que estão classificadas pelo Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (SALVE) como Criticamente em Perigo (CR), Em Perigo (EN) ou Quase Ameaçada (NT).
Saíra-apunhalada (Nemosia rourei)
Status de Conservação: Criticamente em Perigo (CR)

Ave da famosa família Thraupidae, que também conta com outras saíras, saís, sanhaços, tiês e outras espécies bem conhecidas dos entusiastas das aves. Seu nome faz referência ao contraste entre a parte frontal do corpo, predominantemente branca, e a mancha vermelha abaixo do bico, garganta e peito, como se tivesse sido perfurada, ou melhor, apunhalada.
É uma ave endêmica do sudeste brasileiro, originalmente, distribuída nas regiões serranas do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Atualmente, está limitada a poucas regiões do estado capixaba.
Mesmo após anos sem registros, a espécie sempre pareceu rara e com população limitada. Atualmente, estima-se que existam menos de 50 indivíduos maduros, distribuídos de forma fragmentada, muitas vezes separados por barreiras ou distâncias intransponíveis.
Formigueiro-de-cabeça-negra (Formicivora erythronotos)
Status de Conservação: Criticamente em Perigo (CR)

Ave extremamente rara e distribuição exclusiva do sul do Rio de Janeiro, mais precisamente dos municípios de Angra dos Reis e Paraty. Habita principalmente áreas arbustivas, matas secundárias e restingas.
Sua distribuição exata vem sendo explorada nos últimos anos, estimando que haja menos de 250 indivíduos com capacidade reprodutiva na natureza.
Apesar do nome, sua alimentação não se restringe apenas a formigas. Pode se alimentar também de outros invertebrados, como insetos e aranhas e até mesmo de pequenos anfíbios.
Muriqui-do-norte (Brachyteles hypoxanthus)
Status de Conservação: Criticamente em Perigo (CR)

A distribuição histórica da espécie sugere que deveriam habitar quase que por completo os ambientes florestais de Mata Atlântica dos estados da Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Hoje, considera-se apenas 12 populações remanescentes e 1.136 indivíduos, destes, cerca de 750 com capacidade reprodutiva.
Sua preferência de habitat se dá por florestas estacionais e ombrófilas densas, que oferecem folhas para alimentação ao longo de todo o ano. Em períodos de maior oferta, preferem os frutos – e ocasionalmente, também podem comer cascas e flores.
As populações da espécie estão bem descritas, mas dependem da conservação das poucas áreas restantes. Considerado um primata de grande porte e um dos maiores das Américas (pesando de 8,4 a 9,6 kg), não é tão difícil enxergá-lo. Além do tamanho, sua coloração em tons de cinza e um olhar expressivo enquadrado por manchas escuras chamam a atenção.
São animais tão incríveis e simbólicos, que já elaboramos dois artigos de blog exclusivos para a espécie. Você pode descobrir mais sobre o muriqui-do-norte ou até mesmo entender as diferenças para o muriqui-do-sul.
Borboleta (Polygrapha suprema)
Status de Conservação: Em Perigo (EN)

Essa espécie de borboleta tem sua distribuição restrita a Serra da Mantiqueira, entre os estados Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, mais precisamente, em florestas com altitudes acima de 1400m.
As cores presentes na face dorsal de suas asas são vibrantes, entre o preto fosco e o vermelho vivido – já na face ventral, tons de marrons com manchas mais escuras a torna mais discreta, facilitando a camuflagem, principalmente próximas às árvores.
Mico-leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas)
Status de Conservação: Em Perigo (EN)

Enquanto sua espécie “irmã”, o mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia), é amplamente conhecida, esta muitas vezes é esquecida. Também apresenta pelagem dourada, porém restrita à face e aos membros.
A fragmentação de seu habitat é um dos grandes fatores que causaram o declínio populacional e ameaçam a persistência da espécie. Atualmente, habita as áreas florestais remanescentes do estado da Bahia (nativo e residente), Minas Gerais (nativo e extinto) e Rio de Janeiro (introduzido e residente).
Tanto nas florestas ombrófilas próximas ao litoral quanto nas florestas estacionais semideciduais, esse pequeno primata forma grupos de 3 a 15 indivíduos. Estima-se que sua população total varie entre 6.000 e 15.000 (maduros: entre 2.000 e 5.000).
Cobra-coral-verdadeira (Micrurus potyguara)
Status de Conservação: Quase Ameaçada (NT)

Com distribuição restrita a florestas ombrófilas costeiras de terras baixas do Nordeste do Brasil, a Micrurus potyguara é encontrada nos estados da Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte.
Considerada uma espécie de “coral-verdadeira”, a serpente apresenta um padrão de anéis coloridos dispostos em sequência de vermelho, preto e branco, característica visual que atua como um aviso aposemático (sinal de advertência) a predadores sobre sua toxicidade.
A espécie foi descrita em 2014, já reconhecida como uma verdadeira sobrevivente de uma das regiões de Mata Atlântica mais alteradas e ameaçadas.
Conservação dos animais da Mata Atlântica
Cada uma dessas espécies desempenham papeis essenciais na ecologia do bioma e do local em que vivem. Independentemente do grupo, tamanho, hábitos alimentares ou interações interespecíficas, espécies vulneráveis também são importantes indicadores do estado de conservação e saúde ambiental da região.
Infelizmente, muitos animais exclusivos da Mata Atlântica estão ameaçados de extinção, e os anfíbios estão entre os primeiros a sentir os efeitos das mudanças climáticas e eventos extremos.
Quer conhecer algumas das espécies mais carismáticas e vulneráveis desse grupo?
Preparamos uma lista especial com os anfíbios da Mata Atlântica que merecem sua atenção (e proteção). Clique aqui e confira!

O Biofaces e a ciência-cidadã
Ei Biofacer, você sabia que pode contribuir diretamente para a conservação dos animais da Mata Atlântica? Um simples gesto pode fazer grande diferença: ao publicar seus registros em nossa plataforma, você os torna acessíveis para os pesquisadores que estudam ou atuam em projetos de proteção a essas espécies.
Normalmente, quanto mais rara a espécie, maior a dificuldade de se obter informações precisas sobre sua morfologia, hábitos ecológicos e até mesmo, área de distribuição. Uma “simples” fotografia pode ser o diferencial no monitoramento dessas espécies ou até mesmo, novas descobertas em relação a sua população.
Portanto, é importante lembrar: se você tiver a sorte de encontrar esses animais na natureza, aproveite a oportunidade e compartilhe seus registros no Biofaces!
Texto por: Kleyton Camargo – Greenbond Conservation
Revisado por: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation