Animais Fantásticos e Onde Habitam: sapos carismáticos da Mata Atlântica

Todo mês um post novo trazendo os melhores lugares para observar os animais fantásticos que habitam o Brasil e o mundo. Neste mês, viemos falar sobre 5 espécies muito carismáticas de sapinhos que ocorrem na Mata Atlântica brasileira. Afinal, esse bioma é o detentor da maior biodiversidade de anfíbios do país, diversidade que, infelizmente, está muito ameaçada, então mais do que nunca, é muito importante conhecê-la.

 

Sapinho pingo de ouro (Brachycephalus alipioi) em Vargem Alta / ES. Foto: Kennedy Borges-Road – Biofaces.

 

Mata Atlântica – bioma com maior biodiversidade de anuros

Das cerca de 8.400 espécies de anfíbios existentes no mundo, aproximadamente 1200 estão em solo brasileiro, sendo o Brasil, o país que apresenta a maior biodiversidade de anfíbios.

 

Rã flautinha (Aplastodiscus albosignatus), espécie que só ocorre na Serra do Mar e na Serra da Mantiqueira. Foto: Diogo Luiz, Repertório Animal – Biofaces.

 

Mais da metade das espécies de anfíbios anuros (sapos, rãs e pererecas) que ocorrem no Brasil, estão concentradas na Mata Atlântica brasileira – bioma com a maior riqueza e grau de endemismo (ou seja, de animais que só existem naquele local) desses anfíbios de todo o país. Ao todo, estima-se que há cerca de 700 espécies no bioma, distribuídas por 17 estados brasileiros.

 

Os anfíbios da Mata Atlântica correm perigo!

Infelizmente, estudos constataram que, ao longo dos últimos 130 anos, as populações de quase 15% das espécies de anuros do bioma, reduziram. Além disso, segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, todas as espécies que estão quase ameaçadas de extinção (NT), que apresentam algum grau de ameaça (VU, EN, CR) ou que são consideradas extintas (EX) estão na Mata Atlântica.

A maioria das espécies que possui Dados Deficientes (DD) também pertence ao bioma. Informações que realçam os impactos que elas vêm sofrendo, decorrentes principalmente da perda de habitat, das alterações climáticas e da doença causada pelo fungo Batrachochytrium dendrobatidis.

 

Perereca de Alcatrazes (Ololygon alcatraz). Foto: Victor Fávaro Augusto – Biofaces.

 

Entre as espécies muito ameaçadas, estão a perereca de Alcatrazes (Ololygon alcatraz) e a rã de Alcatrazes (Cycloramphus faustoi), anfíbios considerados “Criticamente em Perigo” (CR) de extinção pela IUCN, que estão restritos à ilha de Alcatrazes / SP.

 

Rã de Alcatrazes (Cycloramphus faustoi). Foto: Victor Fávaro Augusto – Biofaces.

 

Conhecer é preservar: 5 sapinhos carismáticos que só ocorrem na Mata Atlântica

Conhecer a biodiversidade presente no bioma é fundamental para ajudarmos em sua conservação. Inclusive, realizar ciência cidadã é uma ótima maneira de contribuir. Pensando nisso, conheça 5 espécies simpáticas do bioma e, claro, saiba onde encontrá-las para boas fotografias de vida selvagem!

 

1 – Sapinho pingo de ouro

Sapinho pingo de ouro (Brachycephalus alipioi) em Vargem Alta / ES. Foto: Thiago Silva-Soares – Biofaces.

 

Essa espécie, Brachycephalus alipioi, ocorre em áreas florestais montanhosas do bioma atlântico, no estado do Espírito Santo.

 


Mapa de distribuição do sapinho pingo de ouro (Brachycephalus alipioi). Fonte: IUCN (International Union for Conservation of Nature), Conservation International & NatureServe. 2008. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2022-2

 

Com cerca de 1,25 a 1,6 cm de comprimento, seus pequenos indivíduos são encontrados no chão das florestas, em meio ao folhiço. Seu nome “pingo de ouro”, refere-se à sua coloração dourada que, no chão, destaca-se como uma gotinha de ouro. A cor chamativa é uma adaptação evolutiva e funciona como um sinal de alerta aos predadores, avisando que aquele animal é tóxico ou possui cheiro ou sabor desagradável. Esta adaptação é conhecida como aposematismo.

 

Sapinho pingo de ouro em Vargem Alta / ES, na Reserva Kaetés, do Programa de Conservação da Saíra Apunhalada. Foto: Renan Luxinger Betzel – Biofaces.

 

Os sapinhos pingo de ouro são diurnos e se alimentam de invertebrados – aranhas e ácaros já foram encontrados no conteúdo estomacal de dois indivíduos. Mas, apesar de já termos essas informações sobre eles, ainda faltam muitos dados sobre a espécie, inclusive, a avaliação do seu status de conservação pela IUCN ainda é considerada como “Dados Deficientes” (DD).

Com a falta de informações, pesquisadores do Herpeto Capixaba acompanhados pela equipe de filmagem do Instituto Últimos Refúgios foram ao município de Vargem Alta para pesquisá-lo. Como resultado, eles elaboraram o minidocumentário sobre a espécie “A jóia da Mata Atlântica Capixaba: sapinho-pingo-de-ouro”, disponível no Biofaces.

Devido ao tamanho reduzido e localização geográfica restrita, encontrar esses sapinhos dourados exige bastante dedicação. O minidocumentário, por exemplo, foi feito em uma área chamada de “O Ponto Mágico” pelos pesquisadores, local com boa concentração desses anfíbios, mas localizada bem no interior da floresta. Caso você venha a se aventurar pelas florestas capixabas e encontre esses anfíbios dourados, já sabe: compartilhe seus registros em nosso site!

 

2 – Sapinho de barriga vermelha

Sapinho de barriga vermelha em Laguna / SC. Foto: Michelle Ramos – Biofaces.

 

Outro anfíbio de distribuição geográfica relativamente restrita e que exige bastante atenção para ser encontrado pelo observador! O sapinho de barriga vermelha (Melanophryniscus dorsalis) ocorre apenas em dunas de areia e áreas próximas, distribuídas na faixa litorânea entre Laguna (SC) e Mostardas (RS).

 

Mapa de distribuição do sapinho de barriga vermelha (Melanophryniscus dorsalis). Fonte: IUCN (International Union for Conservation of Nature), Conservation International & NatureServe. 2008. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2022-2

 

Seu tamanho varia de 2 a 2,7 cm e sua coloração é vermelha com preta, sendo a faixa vermelha em seu dorso, a característica diagnóstica da espécie (M. dorsalis). Além disso, esse sapinho é ativo durante o dia e para se reproduzir, ele utiliza poças temporárias. Infelizmente, a espécie é considerada “Vulnerável” (VU) pela IUCN.

 

Sapinho de barriga vermelha em Laguna / SC. Foto: Felipe Moreli Fantacini, Instituto Espaço Silvestre – Biofaces.

 

3 – Perereca araponga

Perereca araponga (Boana albomarginata) no Rio de Janeiro. Foto: Diogo Luiz, Repertório Animal – Biofaces.

 

A perereca araponga (Boana albomarginata) ocorre na faixa de Mata Atlântica que vai desde o estado de Pernambuco à Santa Catarina, sendo possível encontrá-la em vários pontos ao longo dessa distribuição. Alguns locais que os biofacers já tiveram a oportunidade de fotografá-la são: Parque Estadual Paulo César Vinha (Guarapari / ES), Parque Estadual Lagoa do Açu (Campos / RJ) e Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ).

 

Mapa de distribuição da perereca araponga (Boana albomarginata). Fonte: IUCN (International Union for Conservation of Nature), Conservation International & NatureServe. 2008. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2022-2

 

Esse anfíbio chega a 6 cm, alimenta-se de invertebrados e vive em arbustos ou no solo, nas bordas de florestas. Além disso, a perereca araponga possui hábito noturno, passando o dia camuflada nas folhas – camuflagem permitida por sua coloração dorsal verde. Já em sua parte ventral, ela possui lindas manchas alaranjadas. Felizmente, não é considerada ameaçada de extinção pela IUCN.

 

Perereca araponga (Boana albomarginata) em São João da Barra / RJ. Foto: Thiago Silva-Soares – Biofaces.

 

4 – Perereca da folhagem reticulada

O quarto anfíbio da nossa seleção é a perereca da folhagem reticulada (Pithecopus ayeaye), espécie considerada “Criticamente em Perigo” (CR) de extinção pela IUCN. Ela possui distribuição pontual, em algumas áreas de transição entre Mata Atlântica e Cerrado, principalmente em seus campos rupestres.

 

Mapa de distribuição da perereca da folhagem reticulada (Pithecopus ayeaye). Fonte: IUCN (International Union for Conservation of Nature), Conservation International & NatureServe. 2008. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2022-2

 

Alguns indivíduos, por exemplo, foram avistados no Morro do Ferro, em Poços de Caldas / MG, no Parque Estadual das Furnas do Bom Jesus, em Pedregulho / SP e também em Congonhas / MG, onde o biofacer Victor Fávaro Augusto teve a oportunidade de fazer a linda fotografia abaixo, que é a única da espécie postada no Biofaces.

 

Perereca da folhagem reticulada (Pithecopus ayeaye) em Congonhas / MG. Foto: Victor Fávaro Augusto – Biofaces.

 

A perereca da folhagem reticulada ocorre em áreas próximas a corpos d’água e possui o dorso verde, com o ventre com manchas de padrão reticulado que variam de cor conforme a população, mas que tendem a ser pretas e laranjas, podendo também apresentar tons arroxeados e acinzentados. O seu comprimento varia de 3,5 a 4,6 cm.

Como você provavelmente já percebeu, ela é uma raridade e logo, faltam dados sobre sua biologia. Avistá-la é uma grande sorte.

 

5 – Sapo de chifres

Sapo de chifres (Proceratophrys boiei) fotografado no Parque Estadual Intervales / SP. Foto: Gustavo Pinto – Biofaces.

 

A distribuição do sapo de chifres (Proceratophrys boiei) vai do estado de Pernambuco à Santa Catarina, com populações isoladas no Ceará. Muitas áreas protegidas abrigam populações da espécie, como o Parque Estadual Intervales (local da fotografia acima), Estação Biológica de Boracéia, Reserva Particular do Patrimônio Natural Serra do Caraça, Parque Nacional (PARNA) da Tijuca, PARNA da Serra da Bocaina, PARNA de Itatiaia, PARNA da Serra do Órgão e o Parque Estadual da Serra do Mar. Assim como a perereca araponga, esse anfíbio também não é considerado ameaçado de extinção pela IUCN.

 


Mapa de distribuição do sapo de chifres (Proceratophrys boiei). Fonte: IUCN (International Union for Conservation of Nature), Conservation International & NatureServe. 2008. The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2022-2

 

O nome sapo de chifres, deve-se à presença de cristas em sua cabeça que lembram chifres. Além das cristas, ele possui diversos tubérculos e grânulos espalhados pelo corpo. Ele mede de 4 a 7,4cm, alimenta-se de insetos e vive em áreas florestais, camuflando-se nas folhas secas no solo e se direcionando a áreas pantanosas ou riachos para depositar seus ovos.

 

Sapo de chifres (Proceratophrys boiei) em Ribeirão Grande / SP. Foto: Cláudio Dias Timm – Biofaces.

 

Esperamos que, com a nossa seleção, a sua curiosidade em saber quais espécies habitam o bioma tenha começado a ampliar. Uma sugestão para você ter um panorama maior de toda essa biodiversidade é comprar um guia de identificação de anfíbios da Mata Atlântica. O “Guia dos Anfíbios da Mata Atlântica – Diversidade e Biologia”, por exemplo, é um livro bilíngue (português-inglês) publicado em 2013, com informações sobre 457 espécies de anfíbios, em 544 páginas.

Caso queira saber mais sobre o bioma, em outra matéria, contamos sobre os principais Parques Nacionais da Mata Atlântica, clique aqui para ler. Já caso queira saber mais sobre os anfíbios, temos um artigo que aborda os sapos mais icônicos das Américas.

Por fim, vale a pena lembrar: se você tiver a oportunidade de registrar esses anuros, compartilhe seus registros em nossa plataforma de ciência cidadã!

 

Texto por: Jéssica Amaral Lara

Revisado por: Juliana Cuoco Badari

1 Comment

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Attila Rubens Zsoldosreply
4 de dezembro de 2023 at 19:37

Botão de ouro. Várias vezes encontrei este bichinho nas minhas andanças pela Serra da Mantiqueira em Campos do Jordão. Tenho várias fotografias. Não sei mais se continuam pela região. Tudo muda o calor está intenso. E faz uns 5 ou 6 anos que não visito o local.

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