Camelo e dromedário: Características e adaptações
Ao pensarmos em camelo e dromedário, automaticamente associamos estes animais aos desertos. Eles possuem um conjunto de características únicas que possibilitam sua sobrevivência em um ambiente tão hostil. Mas, e se eu te disser que os camelos se originaram em um ambiente completamente diferente, você acredita? Ficou curioso? Então acompanhe o blog de hoje para descobrir mais sobre as fascinantes características e adaptações do camelo e do dromedário!
Características
Os camelos, como conhecemos hoje, pertencem ao gênero Camelus, que inclui duas espécies principais: o dromedário (Camelus dromedarius) e o camelo (Camelus bactrianus). Essas espécies se diferenciam por várias características, sendo a mais visível a corcova, uma marca tão simbólica do gênero. O dromedário possui uma única corcova, enquanto o camelo apresenta duas.
Além das corcovas, essas espécies também diferem em outros aspectos, como a distribuição geográfica e as adaptações ao ambiente. O dromedário é mais comum em regiões áridas e semiáridas do Oriente Médio e da África, enquanto o camelo-bactriano é encontrado principalmente nas regiões frias e desérticas da Ásia Central. Essas adaptações únicas permitem que ambos os animais sobrevivam e prosperem em condições extremas, tornando-os verdadeiros mestres da sobrevivência no deserto.
As famosas corcovas dos camelos, que muitas pessoas acreditam erroneamente que contêm água, são na verdade uma característica essencial para a sobrevivência desses animais. As corcovas armazenam mais de 35 kg de tecido adiposo, ou seja, gordura. Essa concentração de gordura em um único local permite que o restante do corpo do camelo permaneça livre desse isolante térmico, facilitando a dissipação do calor e reduzindo a perda de água por transpiração.
Em situações adversas, como a escassez de água e alimentos, o camelo recorre a essa reserva de gordura na corcova. A gordura é então convertida em água e energia, permitindo que o animal sobreviva por longos períodos sem acesso a recursos externos. Em casos extremos, essa utilização da gordura pode resultar em uma corcova “vazia”, que se torna visivelmente flácida.
Além das corcovas, outras características ajudam os camelos a sobreviver com uma disponibilidade limitada de água. Seus rins, intestinos e até mesmo os glóbulos vermelhos são extremamente eficientes na retenção de água. A urina dos camelos é tão concentrada que se assemelha a um xarope, e suas fezes são tão secas que podem ser usadas como combustível para fazer fogo.
A capacidade dos camelos de repor a água também é impressionante. Eles podem beber cerca de 115 litros de água em apenas 13 minutos! Além de beber água, os camelos conseguem obter hidratação de algumas plantas peculiares. Suas bocas possuem papilas queratinizadas, que protegem o interior e permitem a ingestão de plantas espinhosas, como cactos, sem causar ferimentos.
Outras adaptações também contribuem para a sobrevivência desses animais nos desertos. Eles podem fechar suas narinas para evitar a entrada de areia, possuem duas fileiras de longos cílios para proteger os olhos contra a areia e têm patas largas que facilitam a locomoção na areia. Impressionante, não é?
Um fragmento de osso
Agora que aprendemos sobre todas essas adaptações dos camelos ao ambiente desértico, é difícil imaginar esses animais habitando outro tipo de ambiente, não é mesmo? No entanto, a origem desse gênero nos leva a um extremo completamente diferente: o Círculo Ártico.
Em 2006, a paleobióloga Natalia Rybczynski estava em uma expedição no norte do Canadá quando se deparou com o que inicialmente parecia ser uma pequena lasca de madeira. Após uma análise mais cuidadosa, ela descobriu que, na verdade, se tratava de um osso de camelo de 3,5 milhões de anos, preservado pelo gelo Ártico.
Nos anos seguintes, Natalia coletou cerca de 30 fragmentos desse mesmo osso e descobriu que se tratava de uma tíbia, um osso da perna. Através de comparações, Natalia percebeu que a tíbia pertencia a um mamífero do grupo dos ungulados, mas o tamanho era muito maior do que qualquer espécie atual.
Com alguns anos de pesquisa em cima dos fragmentos, Natalia finalmente obteve sua resposta, através de uma análise do colágeno preservado no osso. Algumas espécies têm estruturas ligeiramente diferentes de colágeno, uma proteína encontrada em todos os mamíferos e, o colágeno presente em todos aqueles fragmentos, possuía um perfil igual ao de um mamífero atual: o camelo.
Baseado no tamanho do osso, esse camelo extinto teria tido quase 3 metros de altura, diferindo da média de 2 metros dos camelos atuais. Isso significa que Natalia havia encontrado um fóssil de um camelo gigante do Ártico.
A dispersão dos camelos pré-históricos
No meio científico, não era novidade que a origem dos camelos aconteceu muito longe dos desertos que hoje habitam. As primeiras espécies tiveram origem na região que hoje se encontram os Estados Unidos. Há cerca de 45 milhões de anos, parentes dos camelos atuais habitavam aquelas terras. Alguns com tamanho de coelhos, alguns com pescoços como de girafas e, até mesmo, alguns com focinhos como os crocodilos.
Entre 3 a 7 milhões de anos, alguns destes grupos de camelos pré-históricos migraram para outras partes do mundo. Aqui na América do Sul, podemos encontrar alguns de seus parentes: as lhamas, alpacas, guanacos e vicunhas. Uma característica em comum entre esses grupos e os camelos (que vale o aviso) é o costume de cuspir em pessoas que se aproximam demais sem permissão.
Mas voltando à história, um outro grupo migrou para a Ásia e África, dando origem aos camelos modernos. Em seguida, na última Era do Gelo, os camelos norte-americanos foram extintos.
Camelos na neve
O fato dos camelos serem originários de outras regiões distantes podia até não ser novidade, mas o fato de um desses animais ter habitado regiões com clima oposto ao atual foi uma surpresa a todos. É verdade que, naquela época, a região tinha um clima um pouco mais ameno que atualmente, se aproximando mais ao clima encontrado na Sibéria, mas ainda significaria condições árticas, com invernos rigorosos, nevascas e lagos congelados.
E como pode um camelo ter sobrevivido a isso? Natalia chegou a uma resposta fascinante: E se todas as características que fizeram os camelos conquistarem tão bem os desertos também auxiliassem sua sobrevivência em condições árticas? A proteção de suas narinas e olhos contra a areia pode ter protegido contra nevascas. As patas largas que ajudam a não afundar na areia poderiam ter o mesmo efeito na neve. Além disso, o couro espesso dos camelos poderia fornecer uma camada adicional de proteção contra o frio extremo. É totalmente contraintuitivo, mas também é brilhante.
Adaptações Surpreendentes dos Camelos
Os camelos são conhecidos por suas adaptações únicas que lhes permitem sobreviver em ambientes extremos. Vamos explorar mais a fundo essas características fascinantes:
Narinas e Olhos Protegidos: As narinas dos camelos podem se fechar para evitar a entrada de areia durante tempestades no deserto. Essa mesma adaptação poderia proteger contra a entrada de neve durante nevascas. Além disso, seus longos cílios e sobrancelhas espessas protegem os olhos, uma vantagem tanto no deserto quanto no Ártico.
Patas Largas: As patas largas dos camelos evitam que eles afundem na areia fofa do deserto. Da mesma forma, essas patas poderiam distribuir o peso do animal sobre a neve, evitando que afundem.
Couro Espesso: O couro dos camelos é incrivelmente espesso e resistente, proporcionando uma barreira eficaz contra o calor intenso do deserto e, potencialmente, contra o frio extremo do Ártico. Esse couro também ajuda a minimizar a perda de água, uma característica vital tanto em climas áridos quanto em ambientes gelados.
Uma História de Sobrevivência
É incrível como um animal tão perfeitamente adaptado a um nicho tem uma história de vida totalmente diferente. Especialmente devido ao fato de que essa descoberta foi a partir de uma coisa tão singela quanto um fragmento de osso. Essa história foi abordada na íntegra em uma TED Talk, que você pode conferir aqui.
A história dos camelos é um testemunho da incrível capacidade de adaptação dos seres vivos. Desde os desertos escaldantes até as tundras geladas, esses animais demonstram uma resiliência impressionante.
E então, também achou fascinante a história por trás desses animais incríveis? Para quem tiver registros dessas espécies, você pode ser o primeiro a postar na plataforma do Biofaces. Topa? Estamos esperando!
Texto por Lidiane Nishimoto
Revisado por Fernanda Sá
Atualizado por: Juliana Cuoco Badari – Greenbond Conservation.