Animais Fantásticos e Onde Habitam: Jiboia do Ribeira

Todo mês um post novo trazendo os melhores lugares para observar os animais fantásticos que habitam o Brasil e o mundo. Neste mês, vamos falar de um desses animais, a jiboia mais rara do mundo (e na nossa opinião, uma das serpentes mais bonitas do Brasil): a jiboia do Ribeira. A espécie é encontrada apenas em uma área restrita do estado de São Paulo e só foi vista em 10 ocasiões. Vem conhecer essa raridade em forma de serpente!

 

Foto: Projeto Jiboia do Ribeira via Instituto Butantan.

 

Jiboia do Ribeira

 

A jiboia do ribeira (Corallus cropanii), como seu próprio nome diz, é uma espécie de jiboia, uma serpente constritora. Ou seja, pertence ao grupo de serpentes da família Boidae, conhecido por não possuir dentição inoculadora de veneno, matando suas presas por constrição. Portanto, ela não possui veneno e não é peçonhenta.

 

Foto: Bruno Rocha/Arquivo Pessoal via G1.

 

Entre as espécies de sua família, pode-se dizer que a C. cropanii é a jiboia mais rara do mundo. Ela existe apenas na Mata Atlântica do Vale do Ribeira, região ao Sul do estado de São Paulo, que abrange cerca de 31 municípios.

 


Distribuição da espécie – região do Vale do Ribeira, ao Sul do Estado de São Paulo. Mapa: IUCN, 2020.

 

Considerada ameaçada de extinção, tanto em nível internacional, quanto nacional, apenas 10 registros de indivíduos foram feitos em toda a história. Chocante, né? Mas calma que já vamos explicar isso! Mas antes, vale apresentar algumas informações do que se sabe sobre a sua biologia, a partir desses poucos encontros.

 

Biologia

 

A espécie é considerada de grande porte, podendo atingir cerca de 1,8 metros. Como característica facilitadora de sua identificação, está a presença de fossetas (pequenos buracos) entre as escamas da região da boca.

 

Fossetas na face. Foto: Daniela Gennari via Herpetologia Brasileira vol. 9, nº 2 – Notícias de Conservação.

 

Sabe-se também que ela possui hábitos arbóreos, e costuma ocupar as altas copas das árvores (fator que contribui para sua furtividade), mas também pode passar algum tempo no solo. Possui dieta carnívora, e até o momento o único evento de predação registrado foi de uma cuíca de quatro olhos (Metachirus nudicaudatus), um pequeno marsupial. Pois bem, até então o que temos são somente essas pouquíssimas informações!

 

Serpente mais rara do mundo

 

A primeira jiboia do ribeira encontrada viva foi descrita em 1953, pelo pesquisador Alphonse Richard Hoge, do Instituto Butantan. O indivíduo foi tombado na coleção do Instituto Butantan, mas infelizmente, o acervo pegou fogo em 2010. Relembre o incêndio nesta matéria do G1 e nesta da Fapesp.

 

Descrição da espécie. Imagem: Twitter Projeto Jiboia do Ribeira

 

 

O segundo e o terceiro exemplares foram encontrados já sem vida, em 1969 e em 1978. O primeiro foi doado à coleção do American Museum of Natural History, em Nova York, Estados Unidos.

Passados 24 anos do encontro com o terceiro indivíduo, em 2002, um novo exemplar (em óbito) foi enviado ao Instituto Butantan. Em 2009, outro registro, desta vez, uma fotografia do que seria o quinto indivíduo conhecido, infelizmente, também morto.

Em 2016, a história se repetiu: o sexto indivíduo sem vida foi encontrado (esse está depositado no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo).

Mas, chega de fatos tristes! Diante da falta de informações sobre a espécie associada a um histórico de encontros raros e em sua maioria, com indivíduos em óbito, foi criado em 2016, o Projeto de Conservação da Jiboia do Ribeira. E com ele, vieram muitas notícias boas, incluindo três encontros com exemplares vivos, o primeiro deles, 64 anos depois da descrição da espécie! 

 

Projeto de Conservação da Jiboia do Ribeira

 

Através de ações de educação ambiental realizada com moradores da região de ocorrência da jiboia do Ribeira, a equipe do Projeto conscientiza a comunidade local sobre a importância de se preservar essa espécie tão pouco conhecida, reduzindo possíveis medos que eles possam ter dessa serpente.

 

Folhetos elaborados pela equipe do Projeto para divulgação. Fonte: Herpetologia Brasileira vol. 9, nº 2 – Notícias de Conservação.

 

A primeira comunidade abordada foi a Guapiruvú, localizada no bairro rural de Sete Barras. O trabalho de sensibilização por lá gerou ótimos resultados e encheu os pesquisadores de esperança.

No início de 2017, o segundo indivíduo encontrado com vida da história foi capturado! 64 anos após o avistamento da primeiro, quando a espécie foi descoberta (sendo a sétima jiboia encontrada): uma fêmea de 1,75 metros de comprimento, apelidada carinhosamente pela comunidade como Dona Crô.

Felizmente, antes de ser possivelmente morta, alguns moradores reconheceram a serpente e perceberam que se tratava da espécie divulgada pelos pesquisadores. Então ela foi capturada, avaliada pela equipe do Projeto e posteriormente solta no mesmo local onde havia sido encontrada, sendo monitorada por 3 meses consecutivos.

 


Bruno Rocha, do Projeto Jiboia do Ribeiro, com André Marques Bezerra e Paulo Vinícius Teixeira, moradores do Guapiruvú, que encontraram a Dona Crô e auxiliaram no seu monitoramento pós-soltura. Foto: Lívia Corrêa via Herpetologia Brasileira vol. 9, nº 2 – Notícias de Conservação.

 

Em 2020 mais dois indivíduos foram achados pela comunidade: o oitavo e nono já registrados. O primeiro, em abril, infelizmente sem vida: foi fotografado morto na beira de uma estrada em Sete Barras, em local próximo às atividades de educação ambiental.

O nono exemplar (e o terceiro com vida já visto) foi encontrado em outubro de 2020: uma fêmea que ganhou o nome Esperança. Inclusive, um dos moradores que encontrou Dona Crô, o Paulo Vinicius Teixeira, responsável pela ação comunitária Mãos que Protegem e funcionário do Parque Estadual Intervales, também participou da sua descoberta.

Diferente de Dona Crô, Esperança ficou em cativeiro no Parque Estadual Intervales por 6 meses, permitindo à equipe do Projeto de Conservação realizar análises clínicas e coletar dados sobre comportamento e hábitos, conhecendo melhor a espécie.

 

Esperança. Foto: Projeto Jiboia do Ribeira via Instituto Butantan.

 

Após o período em observação, a fêmea, com seus 1,35 metros de comprimento, foi devolvida à natureza, acompanhada de um pequeno radiotransmissor doado e implantado pelo médico veterinário Vinicius Gasparotto. O equipamento permite coletar dados em vida livre, gerando mais informações sobre a espécie. No Instagram do Projeto é possível acompanhar alguns dos encontros com Esperança em seu habitat.

Por fim, o décimo indivíduo foi capturado em 2022, um macho adulto de 1,28 m. Desta vez, a polícia encontrou o animal, que estava sendo mantido em cativeiro ilegalmente, acionando o pessoal do Projeto (entenda essa história melhor aqui). Ele foi avaliado, solto e está sendo monitorado na natureza.

 

Onde encontrar a jiboia do Ribeira

Encontrar as jiboias do Ribeira não é tarefa fácil e isso você provavelmente já percebeu. Mas, nada te impede de tentar! Como comentamos, seu habitat é a Mata Atlântica da região do Vale do Ribeira.

Mas, com a educação ambiental, a área da comunidade de Guapiruvú, em Sete Barras / SP, tem sido uma região promissora de descoberta de novos exemplares nos últimos anos, incluindo no Parque Estadual Intervales, onde a Esperança foi encontrada, capturada e devolvida à natureza.

Se encontrar um indivíduo, já sabe né? Posta no Biofaces e claro, entre em contato com a equipe do Projeto de Conservação da Jiboia do Ribeira. Clique para acessar o Facebook, Instagram e Twitter do Projeto.

A Revista Herpetologia Brasileira (publicação de Agosto 2020 – Volume 9, nº 2 – ISSN: 2316-4670) também contou sobre a história dessa serpente ameaçada. A matéria está super bacana e caso você tenha interesse em conhecer ainda mais ela, sugerimos a leitura!

 

Esperamos que assim como nós, você tenha se encantado pela jiboia mais rara do mundo!

 

Texto por: Jéssica Amaral Lara

Revisado por: Juliana Cuoco Badari

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