Animais Fantásticos e Onde Habitam: aranhas-pavão

Todo mês um post novo trazendo os melhores lugares para observar os animais fantásticos que habitam o Brasil e o mundo. Neste texto, viemos contar sobre um grupo de aranhas super curioso, pertencente à família Salticidae e que existe apenas na Austrália: as aranhas-pavão! 

Comentamos ainda sobre a importância da ciência cidadã na conservação das espécies e da fotografia Macro no registro de invertebrados. Continue lendo, temos a certeza de que você irá gostar de conhecer esses pequenos animais!

 

Aranha-pavão da espécie Maratus speciosus. Foto: Jürgen Otto – Conexão Planeta.

 

Diversidade das aranhas-pavão!

Se você já sabia da existência das aranhas-pavão, provavelmente é porque já se deparou com um registro da espécie Maratus speciosus, da foto acima! Apesar das suas fotografias serem muito famosas, a espécie está longe de ser a única, ou a principal representante do grupo. Existem ao menos 90 espécies desses invertebrados, a maioria, pertencentes ao gênero Maratus sp. e de coloração também extravagante.

Mas, antes de mostrarmos algumas para vocês, vale ressaltar que somente os machos adultos são coloridos – todos os indivíduos jovens e as fêmeas adultas possuem coloração marrom.

 

Machos de 9 das mais de 90 espécies de aranhas-pavão. Fotos: peacockspider.org.

 

Características e comportamentos

Apesar da coloração exuberante, que a título de curiosidade, é formada por diversas escamas microscópicas (pelos modificados), quando o assunto é tamanho, essas aranhas são bem discretas: possuem cerca de 4 milímetros de comprimento.

 

Macho adulto de Maratus robinsoni. Foto: peacockspider.org.

 

O tamanho reduzido contribui para que elas sejam alvos fáceis de vários insetos carnívoros. Em contrapartida, essas aranhas saltadoras saltam em até 40x o seu comprimento, fugindo dos predadores.

Por outro lado, elas também são ótimas predadores. Diferentes de várias outras aranhas que tecem teias e esperam por suas presas, as aranhas-pavão caçam ativamente seu alimento, que consiste em pequenos insetos como grilos e outras aranhas.

Seu período de vida é de aproximadamente 1 ano, sendo que durante a maior parte dela estão em fase de crescimento. Nos últimos meses de vidal, tornam-se adultas e se reproduzem. Logo mais te contamos sobre a reprodução desses artrópodes!

 

A famosa dança de acasalamento

Dança de acasalamento de aranha-pavão macho. Foto: Jürgen Otto – Conexão Planeta.

 

De comportamento solitário, as aranhas-pavão só são vistas juntas na época de acasalamento: momento em que espetaculares danças de acasalamento acontecem.

Entre os meses de agosto a dezembro, os machos começam a busca pelas fêmeas. Direcionados pelos rastros de feromônios deixados por elas, ao encontrá-las, os machos fazem de tudo para conquistá-las. Tudo mesmo! Levantam as pernas e seu abdômen exibindo suas colorações chamativas, dançando e produzindo som ao bater o abdômen e as pernas no solo, som que é sentido pelos receptores sensoriais nas pernas das fêmeas.

Inclusive, é daí que vem o nome “pavão”: o abdômen levantado na dança de acasalamento, lembra bastante a cauda de um pavão em exibição.

A dança ocorre até a fêmea tomar a sua decisão. Ficou curioso para ver essa cena? Então clica aqui!

Uma curiosidade interessante é que os machos também se exibem para fêmeas de aranhas-pavão de outras espécies, desde que sejam de tamanho similar.

 

Coloração de fêmea adulta – espécie Maratus chrysomelas. Foto: peacockspider.org.

 

Após o acasalamento, as fêmeas colocam seus ovos em uma bolsa no solo, ficando junto aos filhotes até que eles estejam prontos para se alimentar sozinhos. Durante essa etapa, eles são difíceis de serem vistos.

 

Onde encontrá-las (e fotografá-las)

Claro, a nossa primeira dica para você encontrá-las é ir à Austrália, especificamente, para a parte Sul do país, onde a maioria das espécies está (embora existam relatos de uma espécie chinesa, a Maratus furvus, estudos ainda são necessários para certificar que se trata ou não de uma aranha-pavão e se seu gênero é esse mesmo).

Na Austrália, sugerimos que você pesquise o habitat específico das espécies que deseja encontrar. Isso devido ao local de ocorrência das espécies, enquanto algumas habitam áreas pontuais, outras, ocorrem em variados tipos de habitats: desde áreas costeiras e dunas de areias a savanas e solo de florestas de eucalipto. Por exemplo, a espécie Maratus sarahae, ocorre apenas nos dois picos mais altos das cordilheiras de Stirling.

 

Foto e ponto de ocorrência (em branco) da Maratus sarahae. Fonte: Catalogue of peacock spiders.

 

Neste estudo você tem acesso a fotos e área de distribuição de cada uma das espécies.

Mas, como esses animais são muito pequenos e os jovens e as fêmeas são marrons portanto, bem discretos, existe maior chance de encontrá-los na época reprodutiva, quando os machos adultos coloridos estão em busca das fêmeas: ou seja, na primavera australiana, entre agosto a dezembro.

Outra dica de ouro é procurar pelo período da manhã ou após o meio dia (horário em que elas se escondem) e andar lentamente pelo local de ocorrência, procurando-as no próprio chão ou em galhos caídos no mesmo: a sua atenção (e também sorte) serão fundamentais para você encontrá-las!

Claro, tenha muito cuidado, opte por pisar sempre em solos mais limpos, evitando pisoteá-las (principalmente as fêmeas que já copularam, que ficam com seus sacos de ovos no chão e não saem ao perceber a aproximação).

Vale lembrar que não temos registros de aranhas-pavão no Biofaces e o seu clique contribuiria muito com a nossa plataforma de ciência cidadã.

 

A importância da ciência cidadã

Falando em ciência cidadã… Essa ferramenta, fundamental para a conservação da biodiversidade, foi primordial para o conhecimento existente sobre as aranhas-pavão. Um grande exemplo disso foi a descoberta da aranha-pavão nemo (Maratus nemo).

 

Aranha-pavão nemo (Maratus nemo). Foto: Joseph Schubert – National Geographic.

 

Enquanto Sheryl Holliday, uma cientista cidadã apaixonada por orquídeas, membro da ONG Nature Glenelg Trust, da Austrália, fotografava orquídeas no país, um invertebrado pulou na região em que sua lente estava direcionada: uma aranha diferente, com coloração cinza, branca e laranja.

Ao postar o seu registro em suas redes sociais, um estudioso percebeu que a espécie ainda era desconhecida. Ele entrou em contato com Sheryl, que coletou indivíduos e os enviou para o pesquisador, permitindo a sua identificação. Um exemplo significativo da importância da ciência cidadã.

Nesse sentido, só temos a agradecer a todos os usuários do Biofaces, que compartilham seus registros, tornando a nossa plataforma, o maior banco de dados de invertebrados e também de répteis, mamíferos, peixes e anfíbios do Brasil! Que esse banco, com mais de 18 mil espécies cadastradas, possa ajudar muito na conservação.

 

Fotografia macro

Ao encontrar as aranhas-pavão, use e abuse da fotografia macro para o registro desses minúsculos invertebrados! Com uma aproximação elevada, essa técnica de fotografia é capaz de pegar detalhes, que são fundamentais para a identificação de animais tão pequenos (e até mesmo para a sua descoberta, afinal, pelo seu reduzido tamanho, muitas espécies podem ter passado despercebidas à nós e possivelmente ainda há muitas aranhas-pavão a serem catalogadas).

Para dicas de fotografia utilizando essa técnica e seus equipamentos, recomendamos essa matéria do Fotografia Mais.

 

Esperamos os registros de vocês pelo território australiano!

 

Texto por: Jéssica Amaral Lara

Revisado por: Juliana Cuoco Badari

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