Blog: Câmera trap – Conheça melhor a armadilha fotográfica

George Shiras – National Geographic

 

“Um censo dos vivos, não um registro dos mortos”, já dizia Frank M. Chapman, um dos precursores no uso das armadilhas fotográficas em prol da conservação. Anteriormente, o registro de espécies em uma área era feito de maneira mais invasiva, muitas vezes envolvendo a captura letal de animais.

O nome pode levar a conclusões erradas, mas a verdade é que a armadilha fotográfica, também chamada de câmera trap, é um mecanismo que captura apenas o registro fotográfico de animais. São registros não invasivos, ou seja, com o mínimo de interferência humana possível, sem causar incômodo ou lesão no animal em questão.

 

Mão-pelada (Procyon cancrivorus). Foto: Jaime Luis Diehl – Biofaces

 

De trip a trap

Apesar de parecer um equipamento moderno, a história da câmera trap começa há mais de um século. George Shiras é considerado o criador desse método de fotografia. Inicialmente, Shiras navegava à noite e registrava os animais que avistava com a câmera e o flash.

 

Lince (Lynx sp.). Foto: George Shiras (1902) – National Geographic

 

Então, na década de 1890, Shiras desenvolveu o método que deu origem à câmera trap. Tratava-se de uma armadilha fotográfica, usando um trip wire, um fio conectado à câmera e ao flash, que, quando perturbado disparava os dispositivos simultaneamente. E assim, os animais tiravam suas próprias fotografias.

 

Veados-da-Virgínia (Odocoileus virginianus). Foto: George Shiras – National Geographic

 

Shiras conseguiu capturar registros de uma grande diversidade de animais, devido à variedade de métodos utilizados para induzir os animais a perturbar o fio. Uma vez, ele amarrou o fio a um galho deslocado no dique de um castor. À noite, quando o castor consertou o dique, disparou a câmera e tirou sua própria foto.

Seu método inspirou Frank M. Chapman a usar a fotografia em um contexto científico. Através dessas armadilhas fotográficas, Chapman documentou as espécies presentes na ilha de Barro Colorado, no Panamá. É estimado que essa seja a primeira tentativa explícita de documentar as espécies presentes em uma área por meio da fotografia remota.

Ferramenta de Conservação

Atualmente, as câmeras trap são constituídas por uma caixa estanque, geralmente camuflada, com uma câmera atrelada a algum tipo de sensor em seu interior. As caixas protegem os equipamentos em seu interior da exposição ao sol, vento, chuva e umidade. As câmeras costumam registrar imagens, vídeos e sons. O flash normalmente não assusta os animais, já que a luz emitida não é captada pela retina da maioria. O sensor pode detectar movimento e/ou calor, e se ativa quando os animais passam em sua frente.

 

Câmera trap. Foto: Getty Images

 

Com o mínimo de interferência humana, as câmeras podem, além de ajudar no levantamento de animais em uma área, registrar momentos únicos, como alimentação, reprodução, interações sociais e padrões comportamentais. Por exemplo, as câmeras trap ajudaram o Onçafari a provar que as onças-pintadas possuem o hábito de escalar árvores.

 

Onça-pintada (Panthera onca). Foto: Adam Bannister – Onçafari

 

Inclusive, alguns biofacers são adeptos ao uso das câmeras trap. O Jaime Luis Diehl faz o uso desde 2011, registrando as espécies presentes no Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul. Ele administra uma página do facebook, Gatos do Mato RS, e já contribuiu com trabalhos de conservação e até mesmo com Planos de Ação Nacional para a Conservação (PANs) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

 

Gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi). Foto: Jaime Luis Diehl – Biofaces

 

O que saber antes de comprar

E, por fim, para os que ficaram interessados nessa modalidade de fotografia, vem aí as dicas do que saber antes de comprar. Nossa meta não é recomendar um modelo específico, já que quem compra pode ter uma variedade de objetivos, mas sim descrever os critérios importantes a levar em conta na sua escolha.

Com uma pequena exceção no mercado, a maioria das câmeras trap usam sensores passivos que detectam calor em movimento. Isso significa que o sensor desengatilha a câmera quando algo mais quente que o ambiente passa em sua frente. Isso pode ser um problema para quem deseja registrar répteis, já que estes costumam manter uma temperatura próxima à ambiente.

Já os sensores ativos transmitem uma faixa de luz que, quando transpassada, aciona a câmera. Esse tipo de sensor apresenta vantagens, como um enquadramento mais preciso do animal, mas também pode ser acionado por qualquer objeto que não seja um animal.

 

Graxaim-do-mato (Cerdocyon thous). Foto: Jaime Luis Diehl – Biofaces

 

A velocidade de disparo da câmera também é importante, que é o quão rápido a câmera passa de seu modo de latência ao modo ativo. Dependendo de onde a câmera será instalada, é aceitável uma velocidade menor, como em locais com iscas, ou perto de árvores frutíferas. Já em locais de passagem de animais é necessário que seja mais veloz ou os registros serão vazios.

A bateria e o armazenamento de dados são duas questões essenciais a se levar em conta, já que as câmeras costumam ficar instaladas por longos períodos de tempo. A bateria das câmeras com flash infravermelho costuma durar mais do que a dos comuns.

A resistência ao clima também é importante, algumas câmeras são à prova d’água e resistentes à umidade, enquanto algumas são apenas à prova de chuva, menos resistentes. É comum o uso de algum material para absorver umidade, como sílica-gel em seu interior.

 

Gato-mourisco (Herpailurus yagouaroundi). Foto: Jaime Luis Diehl – Biofaces

 

Recomendamos também o cuidado do local onde adquirir seu produto, a Log Nature é especializada em produtos usados em campo e tem alguns modelos à disposição. Agora, com essas dicas, que tal planejar sua próxima aquisição e trazer mais registros para nossa plataforma?

 

Texto por Lidiane Nishimoto

Revisado por Jéssica Amaral Lara

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